Para minha amiga Anaí
Há muito tempo, uma tribo guarani habitava as margens do rio Paraná.
O cacique da tribo era venerado e respeitado por todos os índios, e tinha uma filha cuja beleza cativava quem a visse.*
Seu nome era Anahí, que em guarani significa “aquela de doce voz”.
A princesa índia entoava nostálgicas e misteriosas canções espalhando harmonia ao seu redor.
Certo dia, a paz daquelas tranquilas terras foi quebrada, devido a invasão do homem branco.
Índios e espanhóis entraram em luta e o grande cacique foi morto por um capitão inimigo.
Anahí, cega de dor, jurou vingar a morte de seu pai.
Numa noite sem lua, entrou no acampamento e matou o capitão espanhol, entretanto foi presa sendo condenada a morrer na fogueira.
Amarrada ao poste do suplício, Anahí não soltou um grito sequer, apenas ouviu-se de seus lábios uma melancólica canção de despedida.
Quando só restavam cinzas daquela cruenta fogueira, os soldados, assustados, não podiam acreditar no que seus olhos viam. No mesmo lugar do sacrifício se erguia um tronco milagroso, estendo seus braços transbordantes de flores vermelhas como o sangue.
Desde então, a flor da corticeira adorna e bendiz as agrestes ribeiras e o rio embala esta lenda da frágil indiazinha.
tradução: JFelipe
* Há traduções que dizem que Anahí não era bonita, mas tinha uma voz maravilhosa. Isso talvez se deva ao fato da árvore da corticeira ser feia, ao contrário de sua flor.
A flor da corticeira é a flor nacional da Argentina e Uruguai.
Tropeiro Velho
Sentado a beira do fogo
Sentindo o peso da idade
Tão triste o velho tropeiro
Quase morto de saudade
noventa anos nas costas
Sempre lidou com boiadas
Mas nunca em suas andanças
Deixou um boi na estrada
Agora não pode mais
Seu corpo velho, cansado
Ás vezes fica caducando
E começa a grita com o gado
"era boi, era boiada"
Se assusta e recobre os sentidos
E outra vez fica calado
Pois este velho de noventa
Muito pra mim representa
Ouça os meus versos rimados
Tropeiro velho que tanta tristeza
Esconde o rosto na aba do chapéu
Olhos cravados no fogo do chão
Olha a fumaça subindo pro céu
Quebra de um tapa o teu chapéu na testa
Esqueça o seus noventa janeiros
Repare os campos lá vem a boiada
Pela estrada gritando os tropeiro
Tropeiro velho não levanta os olhos
Não tem mais força é o peso da idade
"Acabrunhado a beira do fogo
Está morrendo de tanta saudade" 2x
Tropeiro velho sou um moço novo
Uma prposta te farei agora
Me dá o teu pala, o relho, o chapéu
Bombacha e botas e um par de esporas
Me dá o cavalo e o arreio completo
Vou continuar no teu lugar tropiando
Tropeiro velho levantou os olhos
Sentado mesmo me abraçou chorando
Beijou meu rosto e foi fechando os olhos
Entregou tudo e morto tombou
"Morreu feliz porque vou continuar as tropiadas que ele tanto amou" 2x
Enterrei ele a beira da estrada
Pra ver a tropa que passa e se vai
Leiam na cruz, vocês vão saber
Tropeiro velho é o meu próprio pai
Adeus meu pai
Tropeiro dos pampas
Teu pensamento cumprirás teu filho
Estou fazendo aquilo que fizestes
Grito a boiada encima do lumbrilho
Tropeiro velho hoje descansa em paz
Estou fazendo aquilo que ele fez
"Os anos passam também fico velho
Vou esperando chegar minha vez" 2x