Como poderei olvida-la morena, como vou perde-la de minhas memórias, como deixar você cair no esquecimento, foi tão bela a paixão vivida contigo, principalmente doutras vidas é claro. E quão belos elogios e quão belas palavras afetuosas de incentivo e compreensão serão capazes de perpetuar em minha mente, como também poderei deixar a dor que a sua falta me faz sentir em minha insaciável alma.
Que expressões facias trago de você em minha mente o tempo todo a ponto de fazer eu mudar o meu tom de voz e não ter palavras para descrever tamanho encanto e beleza. Que pena morena, que sua comunicação é apenas por gestos e acenos, é não verbal, onde o que mais conta é a postura corporal, os seus movimentos e rebolados, o seu olhar penetrante e cativante, e este é fulminante e especial. Ah! O seu sorriso morena, é demais, não tem medo de mostrar seus lindos dentes, a quem você tem afinidade nunca nega o estribo, porém para aqueles entojados, além da náusea receberá é batata! O coice marcado com as ferraduras das suas patas. Mas isso não tira o brilho de seu olhar, gata! Ninguém a maltrata, porque você não tem sangue de barata , é claro.
Mais que bela potranca a desfilar na pista; e que não está e nunca esteve a venda, é uma bela prenda, que gera disputa e contenda, mas aprenda que esta fêmea tem seus meios próprios de dizer sim a quem lhe fizer a corte, seu ritmo respiratório fica acelerado, sua pele muda para um bronzeado encarnado, a dilatação das suas pupilas é perceptível pelo mancebo que a espelha, e os lábios tanto bucal como da vulva ficam vermelhos cor de sangue, clamando para a mais alta expressão do amor.
Fêmea de minha imaginação não fala do celular, não responde aos ´´e-mails`` enfim não fala usando a palavra. Tais limitações de nascença são rapidamente suplantadas quando desvendados os segredos de sua linguagem corporal, esta sim é límpida e cristalina, como o chorinho de uma fonte d`água, nascente de um ribeirão abençoado.
Morena você sofre calada hoje, como sofreu outrora. Portanto não vejo a hora de segura-la pelo bucal, já que para lhe botar freio é só depois de ser conquistada, domada nos domínios do amor e carinho. Oh! Morena ainda levo você pro meu ranchinho, vou enche-la de amor e carinho, e jamais ficarei sozinho, você me acompanhará nesta vida, como já foi minha em gerações passadas. A cada nova passagem nos aperfeiçoamos, ficamos imortais, porque ficam cravadas nas mentes e corações, os nossos olhares apaixonados, nossos momentos eternos, é nessa hora que ficamos encantados. Perdemos nossas arrogâncias e vaidades, somos julgados, pagamos nossos pecados, assim aprendemos e seremos educados a seguir a trilha com humildade e simplicidade. É quando sentimos aquela pulsão e então rezamos uma Ave-Maria, fazemos o Sinal da Cruz e agradecemos sempre, Amém.
Que morena é essa que após 60 anos faz dois tropeiros velhos chorarem de emoção. É a encarnação vinda do além, ao chorarem abraçados vendo aquele retrato daquela bela criatura que Deus pois na Terra para o regalo e prazeres daqueles dois anciões com mais de 80 janeiros, que belo pote de outro retratado em ricas recordações vividas, já que tiveram a oportunidade de ter esta fêmea nas rédeas, e muitas vezes até sangraram-na com suas esporar de prata e chegaram o relho trançado sem dó ou piedade. Porém hoje trazem em seu peito arrependimento e tristeza por ter maltratado tão bela parceira, que nunca clamou, nem mesmo quando gemeu de dor pelo chicote que açodou seu belo lombo ou quando foi cravejada pelas esporas ensangüentadas.
Então foi aí que tomei conhecimento da imortal morena, que nasceu viçosa quando sua mãe morreu ao dar a luz àquela foi sua derradeira filha. Esta filhota nasceu órfã, foi alimentada com leite de vaca e de cabra, criada dentro de um lar como se filha fosse, pelo primeiro homem da sua vida, que até hoje morre de paixão por esta encantadora criatura, mais que bela escultura, ao ver aquela foto naquela moldura ocupando o centro da galeria da mais bela sala de uma mansão, em lugar de destaque para que todos vejam a paixão morena, que a saudade é teu nome morena, pequena que não morrerá jamais, enquanto houver tropeiros, por estas tropeadas lembradas.
Teus cabelos negros morena é uma coisa indescritível, é um manto de adorno em teus belos contornos e em seu lindo pescoço. Gadelha que hoje a chapinha dá jeito sim, mostrando um brilho só. Vejo que você morena tem o capricho de só deixar tosar as pontas, que belo cabelo comprido, dando a você porte e estatura de uma ´´miss`` numa passarela. E quando você é maquiada se parece com uma atriz mocinha de telenovela. Não posso perde-la se te sinto em meus pensamentos, lembro de você e também choro, pois agora sei porque nossos olhos brilham, são de lagrimas sentidas da saudade eterna. Que bons tempos foram aqueles da década de 40 e 50 que não saem de nossas memórias, de um Brasil rural e agrário, quando as mulheres usavam vestidos e eram excelentes dançarinas. Brasil alegre, cheio de esperanças, esperança na democracia que vinha engatinhando, alinhado com os EUA na Guerra Fria. Oh! Meu Deus quanta transformação de lá para cá, do telégrafo a internet, do lampião a querosene a lâmpada elétrica, do berrante trocado pela buzina dos caminhões, da larga aos confinamentos de bovinos, a substituição parcial do touro pela inseminação ou fertilização in vitro (FIV), assim nossos rebanhos estão melhorando a genética, refletindo na qualidade e na produtividade de nosso gado. Somos hoje o celeiro do mundo. Falei sobre o desenvolvimento da agropecuária para mostrar a mágoa do tropeiro que conduz boiada hoje de caminhão ou de trem, o berrante não toca mais e as belas morenas hoje estão nas grandes cidades e estão na pista para negocio.
Morena com seus sete palmos de altura, cerca de um metro e setenta, é vistosa, traz um brilho, uma aura de magia e beleza, que embriaga os espectadores no instante em que vêem você. Amam de paixão. Que deusa morena, que se faz notada atraindo o verdadeiro anjo da guarda, que é o cão policial Braque, preto de patas tordilhas de lindo pelo, ressaltando ainda mais o valor desta prenda morena. Agora eu sei que esta morena ocupou as páginas do jornal e as telas dos cinemas, nas notícias policiais, pois seu último amor foi morto numa briga justa, porém cruel. Mas essa dama nem nesse momento abandonou seu estimado parceiro. Apesar dele ser um pistoleiro afamado, ela que não entendia de nada, não o abandonou, levantou as mãos aos céus, quando o então pistoleiro seu parceiro tombava, baleado e morto, por ter encontrado um adversário que enfrentou com muito arrojo e coragem, marcando assim o fim de uma era de pistolagem e desatino, que o sertão paranaense vivenciou nos meados do século passado. Esta história vem sendo contada de boca em boca, oralmente, e a morena é a fiel companheira que é lembrada com carinho por muita gente.
Saudosa morena, criada inicialmente pelo hoje, tropeiro velho, Sr Natálio Portela, que deu toda a formação necessária para ser uma excelente parceira para qualquer bom tropeiro, na lida do gado. Deixou-a bonita, lhe deu bons arreios, tratou-a com carinho e bondade, mas não se conteve, ela quando sentiu que não era parente, não era, portanto da mesma espécie. Por mítica de comum acordo o estribo e a montada. E que bela montaria, como sempre acontecia, nunca lhe negou os estribos. Obedeceu-o, entendia que este senhor era bom de rédeas e tinha uns trocos, assim seu sustento estava garantido.
O segundo amor da morena foi meu tio, moço, bonito, garboso, mulherengo, porém, muito amoroso, vaidoso. Ele era o protótipo do jovem tropeiro em ascensão, foi nesse encontro que a morena gostou do Braque, que meu tio Mário logo, encarregou este fiel amigo cão, guardar aquela bela fêmea para que nunca fosse seqüestrada, pois eram notórios em toda a região do oeste paranaense. Já tomava sorvete com tanta delicadeza que chamava atenção da rapaziada inconseqüente que perambulava pela carreirada do campo do Bugre e nas corridas de Raia-Reta do Caraguatá do Passo Largo. Então meu tio com muita lábia, carícias, chamegos e boas falas se entendeu com aquela morena que acendeu o fogo da sua paixão. Como esta de se esperar a dama se apaixonou pelo corajoso jovem Mário, o Sr Natálio não teve outra opção a não ser ceder aquele lindo amor que nascia. Assim naquele dia se despediram com uma bela fotografia, o criador e protetor e sua amada protegida. É lógico o Sr Natálio recebeu uma polpuda quantia em dinheiro, como pagamento do dote, que na época era comum isso acontece. Assim, meu tio fechou o negocio, que segundo ele foi o mais feliz da sua vida.
Com a bela donzela meu tio passou por excelente aventuras, ele, a morena e o Braque. Meu tio ensinou-a a beber cerveja, a fumar cigarro pela vulva. E durante todo o tempo que meu tio foi tropeiro, a morena foi sua fiel companheira. Foi motivo de ciúmes por parte de outras moças que não aprovavam esta paixão desenfreada do meu tio, pois o mundo estava mudando, meu tio já era proprietário de um caminhão, portanto virou caminhoneiro. E na época os caminhoneiros não levavam suas parceiras, a situação era adversa, as estradas não eram asfaltadas, poucas pontes, a sinalização era precária. Pobre morena, não gostava de ficar sozinha. Como uma dama, já sem pudores, preconceitos e disposta ao amor a quem lhe oferecesse carinho. O pistoleiro Amaury Patene a encantou, com sua coragem, com seu jeito bonachão, com sua coragem sobrando, mandão, enfim do jeito que uma mulher queria um homem, protetor e provedor, dando mais uma vez vida a sua triste vida. Mal sabia ela que estava na descida. E que aquele amor rápido se despedia. Foi nesse alvoroço, meio que a contragosto o tio Mário negociou a morena, porque além de tudo tinha que quitar o caminhão, que a esta tempo já era o seu sustento. É morena tua sina e apaixonar vários homens, mas morena teu consolo, você nunca terá remorso, não os esnobou, respeitou a todos a seu tempo, que até hoje eles lembram de você morena, com saudade, por isso teu nome hoje é saudade, morena.
A década de 40 e 50 foi do Presidente Getúlio Vargas, podia entrar ou sair presente no cadete, nas paredes das casas continuava o retrato desse ilustre estadista, que preparou as mudanças que assistimos hoje. Seu dito período ditatorial foi perdoado porque foi eleito novamente pelo voto popular em 1951. Portanto, soube se conduzir durante aquele breve lapso de tempo que o Brasil viveu seu estado democrático.
Continuando o dedo de prosa com o Sr Portela, ainda para falar da morena, esta jóia rara, prendada, linda como quê, quis o destino que este amor cruzasse o caminho de três homens e hoje somente dois octogenários ficaram para contar esta bela história de amor e ainda com muita paixão. Potranca boa de cela, poucos homens tiveram o privilégio de montá-la. Fêmea descendente de boa cepa, seu pai era um macho, era um forte, que mais se parecia um caminhão trucado e sua mãe uma fêmea também morena, nervosa, valente e possante estava mais para uma camionete turbinada, traçada, bem calçada a cavalgar pelas estradas de chão, estradas boiadeiras muito comum em seu tempo. Morena rica espécime teve uma gestação de 12 meses, recebendo todo o cuidado necessário na Coudelaria da penitenciária do Paraná, o pré-natal foi acompanhado por médico, já que estrebaria da penitenciária, as parteiras não tinham acesso. Então assim como Nossa Senhora teve o menino Jesus, esta prenda nasceu entre os animais num dia 19 de um final de ano, um pouco antes do meio do Século XX. A criaturinha era bela, pura e já chamava a atenção, que um dos presidiários que cuidava das baias, se encantou pela prendinha, principalmente vendo sua genitora morta, seu coração se encheu de tristeza, porém, veio a alegria daquele natalício para na animar toda a cambada de presos das mais diversas matizes. Então, cria-la foi a obsessão de todos, arrumar leite, papas, mingau e muito amor cercou aquele cativeiro de horrores.
Não me canso de falar de você morena, prendinha amada, junto contigo nunca deixei um boi na estrada, sempre tive segurança no pialo de um laço, mantendo é claro a distância das 11 braças, sempre defendi as orelhas deixando a corda presa nas aspas. A morena que via tudo sempre me acompanhou com formosura e graça. Depois de tudo e do aplauso do povo, abanava meu chapéu e tomava um gole de cachaça, assim eu demonstrava a minha fibra, minha raça.
Oh! Morena agressiva, gosta de ver seus desejos satisfeitos de imediato. É amorosa, porém sempre teve a necessidade de conversar sua independência. Suas idéias quanto ao amor até hoje não são nada convencionais, não tem igual na humanidade, gosta imensamente de aventuras, Mas quando esta para partilhar, esta fêmea vale-se de um olhar.
A Moda Da Mula Preta Tonico E Tinoco
Eu tenho uma mula preta
Com sete palmo de altura ai ai ai
A mula é descanelada
Tem uma linda figura ai ai ai
Tira fogo na calçada
No rampão da ferradura ai ai ai
Com morena na garupa
A mula vai segura ai ai ai
A mula fica enjoada
Pisa torta e anda dura ai ai ai
No ensino da criação
Veja o tanto que regula ai ai ai
O defeito do mulão
Se eu contar ninguém calcula ai ai ai
Moça feia e marmanjão
Na garupa a mula pula ai ai ai
Chega a fazer serração
Cada pulo dessa mula ai ai ai
O cabra fica tremendo
Sendo preto fica fula ai ai ai
Eu passear na cidade
Só numa volta que eu dei ai ai ai
A mula deidou saudade
Nos lugares que passei ai ai ai
No mulão de qualidade
Quatro milhão enjeitei ai ai ai
Pra dizer mesmo a verdade
Nem satisfação eu dei ai ai ai
Fui dizendo boa tarde
Pra minha casa voltei ai ai ai
Soltei a mula no pasto
Veja o que aconteceu ai ai ai
Uma cobra venenosa
A minha mula mordeu ai ai ai
Com o veneno dessa cobra
A mula nem se mecheu ai ai ai
Só durou mais quatro horas
Depois a mula morreu ai ai ai
Acabou-se a mula preta
Que tanto gosto me deu ai ai ai