FLOR DA BOCA DA NOITE
Antes de entrar, já na porta da cabine me apresentei:
- Eu me chamo Laranjeira;
Ela respondeu em um tom doce e suave:
- Eu sou a Flor da Boca da Noite ; rindo completou:
- estou a seu inteiro dispor.
Assim, fui arrastado para aquele quarto de paredes azuis, onde meus olhos viam o roxo púrpura se esparramar em círculos concêntricos ao redor da luz vermelha piscando, tudo era encanto e beleza combinando com a música sensual vinda do salão, corpos nus se alisando num frenesi de união sexual sem entendermos direito aquele tranquilizante “valium” divertido; que mexendo extasiantemente com os nossos mais profundos sentidos. E eu ali, pertinho da fêmea de olhar matador relutando em tomar a iniciativa; sem pestanejar respondi favoravelmente ao primeiro “sinal verde”. Senti ela atraída por mim, estava a fim de partilhar, além do olhar, o seu toque suave com as mãos veio bem a calhar. Com fértil imaginação erótica rebolou o corpo como se estivesse em uma dança do ventre e gesticulando com mãos e pernas reluzentes beijou-me na face com ternura. Aí possessivamente veio com tudo de forma agressiva a me arranhar as costas, continuou me chupando e me mordendo como uma jaguatirica, esperneando e me apertando para entrar no clima da extrema sedução. Logo vi que aquela bela gostava de um bom desafio. Dentro de mim sentia que compartilhar é a chave de minha satisfação.
Foi então que cometi o crasso erro de sacrificar o meu prazer na ânsia de satisfazer as necessidades eróticas da parceira. Fiquei ressentido e desapontado depois de agir assim. Fui medroso, ingênuo e tímido. Assumi uma atitude egoísta. Não respondi ao assédio com afagos e agrados, essa atitude levou minha china a se sentir negligenciada, insatisfeita e frustrada. Esqueci da reciprocidade, ela era agressiva e cheia de energia sexual, “fera sexual”, confundi tudo, ali era somente sexo, e eu tão burro queria amor. Ela me pareceu ser fácil conquistar o seu amor. Depois das trapalhadas tentei consertar o estrago, já sem jeito fui jogado por cima de um corpo melado de suor e perfume de alfazema. Lavanda cheirosa a impregnar os meus poros, chegando as entranhas de minha alma pecadora. A brincadeira se instalou naquele bota e tira, dentro da boca da noite de uma grota molhada no meio da mata selvagem oxigenada. Relampeava a fluorescente selva do capim dourado dos filhos do Sol. Veio corrente que estava só o ouro. Senti bamburrando como garimpeiro com sua bateia cheia de pepitas. Momento de esplendor iluminado pelo criador. E eu tocando o terror, não demorou muito para me extasiar.
Terminado o agarra-agarra, o mexe e solta. Ela relaxou. Ficou imóvel. Emudeceu. Porém eu continuava com meu mosquete em ombro-armas, duro como ferro quente após o tiro. Foi então que ela disse-me:
- Acabou. Meta cumprida. Encheu-me de gala no contorno do “grelo”. Acanhou-me. Você ejaculou. Saiba que me estimulou, não deu trabalho e como gozou. Terminou. Lá fora tem muitos como você, esperando. A fila anda. Vai que o melhor já passou.
Tentei dar um beijo na sua boca. Desviou-me para a face, e disse-me:
- Beijo na boca e só para o namorado (cafetão que esperava os CR$ 25,00 do malfadado programa). Porém vou deixar marca do batom na cueca. Assim lembrarás de mim e irás confraternizar com teus amigos, pois levarás a prova do crime – a digital dos meus lábios carnudos na cor vermelho sangue - guarde um pouco de mim junto contigo. Vai meu amigo. Ficar mais, eu não consigo.
Como eu sou leal e generoso num relacionamento. Logo percebi que era um “bom negócio”; vi logo de cara que trocar um beijo na boca por um batom na cueca traria grandes benefícios sociais nos bate-papos da putaria lá na “Prepe”. Essa foi a maneira como a Flor da Boca da Noite encontrou para não ferir um golpe contra meu ego machucado; sair daquela transa sem me ofender e garantir o meu retorno ao local do crime de amor.
Naquela noite fria, nosso falar mostrava uma nuvem branca de vapor quente saindo de nossas bocas, tudo para acalentar uma noitada de amores carnais. Divertimentos garantidos, de gente grande feito por gente pequena. Assim a excitação e o movimento eram tantos que a frieza da noite passava despercebida, com pitadas e muita pinga. Arruaças e brincadeiras, estávamos lá, diante das feiticeiras.
Nessa ocasião não me esqueço do Animal falando todos os tipos de nome feio. Palavrões que chegavam aos nossos ouvidos em forma de risos. Entre risadas, palavrões e humor negro. Os fanfarrões: vagina, cunhete de munições, “Salú nego moreno”, Nika, Couro de Pica, Bibão, Cholipa, Orelha de Abano e eu (o Laranjeira). Formamos um círculo em volta do Meia Nove (69) num pergunta-responde antes da incursão de penetração da patrulha – face que antecede o ataque ao objetivo – chamado pelos militares como briefing. Nesse briefing, o preposo HOZ já tinha pagado umas 100 flexões de braços, como o preparo do ato sexual. É certo que a flexão era para se treinar; como se treina um simulador de um touro mecânico ou um bicho pulando. O 69 teria de entrar em frequência para conseguir a penetração, caso entrasse fora de fase, não completa o período e bate as bolas era inevitável, estourando os ovos; sobrava os testículos inchados, doloridos ancorado pelo suporte atlético usado na educação física.