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A Musa do Coronel José Telêmaco
A Musa do Coronel José Telêmaco

Capítulo I – O Cenário

 

Caía a tarde quando os últimos peregrinos alcançava o topo da Sagrada Colina. Na direção do forte de Mont Serrat concentravam-se as carroças enfeitadas feito carros alegóricos. Ao lado, baianas vestidas com seus trajes típicos, carregavam para cima e para baixo, vasos de água-de-cheiro, utilizada para benzer os adeptos e simpatizantes do Candomblé.

 

Era, pois, o ponto alto da Lavagem do Bonfim, uma verdadeira miscelânea de marcantes expressões culturais, em meio a um “mar humano sem limites” a inundar o coração da Cidade Baixa. O cortejo partiu às 8:00 horas da Igreja da Conceição da Praia, nas imediações do Mercado Modelo.  Seguiu pelas ruas do Comércio na direção da Feira de São Joaquim, até alcançar a Igreja do Largo dos Mares.

 

Dos “Mares” o cortejo santo - e pecador  -, seguiu em frente, até o Largo de Roma, para depois atingir as Obras Sociais de Irmã Dulce, prosseguindo até a Avenida Dendezeiros, endereço do Clube dos Oficiais, de onde os olhares eufóricos da multidão já podiam avistar, em meio as copas das palmeiras imperiais, as majestosas torres da Igreja do Bonfim, ponto final dos festejos.  

 

O ambiente era pleno de euforia e a festa corria ao som do toque da cadente sinfonia do afoxé dos Filhos de Gandhi que contaminava toda a atmosfera da Península de Itapagipe. Ouvia-se a todo tempo ecoar em uníssono o hino do padroeiro:

 

Glória a ti neste dia de glória

Gloria a ti redentor que a 100 anos

Nossos pais conduzistes a vitória

Pelos largos e campos baianos.

 

Nesta Sagrada Colina

Mansao da Misericordia

Daí-nos a graça Divina

Da Justica e da concórdia.

 

 

O Coronel experimentava algo de mais inusitado na sua vida de boêmio-viajante, de quem fez a vida praticando sua arte e engenho nas entranhas do Brasil, do Laranjeiras do Sul, no Paraná, terra de sua origem, à Amazônia Legal. De tudo na vida o Coronel pensava que já tinha visto, porém, para seu engano, estava ali vivenciando uma das experiências mais marcante de sua existência.

 

Mal sabia o Coronel o que estava por vir. Ele que acabara de desembarcar em Salvador justo naquela data festiva, não foi difícil ser convencido pelo guia do Hotel Paris a participar – e interagir –, do conclave de tal envergadura.

 

Após a longa caminhada de aproximadamente 13 quilômetros – onde tradicionalmente se vai a pé e não é comum sentir cansaço –, parou o Coronel para contemplar um grupo de dança oriundo da região do Reconcavo Baiano. Estava estampado nas letras douradas do estandarte: Roda-de-Samba Jubileu de Ouro de Cachoeira de São Félix.

 

Era apenas um dos muitos grupos culturais que, de forma espontânea, se misturava com a multidão ao longo do belo cortejo. Aquele pequeno grupo de músicos, cantores e dançarinos protagonizava um espetáculo à parte, através um ritmo alegre e contagiante. O cantor do grupo, Jerônimo, entoava alegremente o seguinte afoxé:

 

 

“Nesta cidade todo mundo é d’oxum

Homem, menino, menina, mulher;

Toda essa gente irradia magia,

A força que mora n’água,

Não faz distinção de cor

E toda cidade brilha.

 

Seja gerente ou filho de pescador,

Ou um importante desembargador,

Se der presente é tudo uma coisa só.

A força que mora n’água,

Não faz distinção de cor

E toda cidade é d’oxum.

 

 

O Coronel, atento, pode confirmar com a sua própria experiência pessoal os versos da música, pois mesmo tratando-se de uma autoridade de alta patente do Exercito Brasileiro, de reconhecida fama e respeito, além de ser um próspero empresário do ramo da construção civil, nada disso importava, ali todos eram iguais. De nada valia,  naquele momento de extrema alegria e descontração, o nível econômico ou o status social, a etnia ou o credo religioso, pois ali todos eram d´oxum, como enfatizava o hino.

 

Em meio ao êxtase da música e da dança o Coronel avistou de longe o sorriso de uma linda e jovem morena, de cabelos cacheados e longos, que se apresentava ao ritmo do samba-de-roda.

 

Muito lindo! Constatou o Coronel. Não há dança mais sensual neste mundo. Nunca vi nada parecido. Proclamou em alto e bom tom: Bravo! Eis ai a Sétima Maravilha das Artes Humanas! A maior expressão da cultura da humanidade de todos os tempos, segundo seus olhos e ouvidos de experiente observador. A jovem dançarina sorridente, passou a ser, ao olhos do coronel, a Primeira Maravilha do Universo.  Nisso ele tinha razão.

 

A paixão foi veloz tal qual um raio fino em noite escura de tempestade. A imagem daquela linda criatura divina, de causar inveja a Gabriela de Jorge Amado, fez com que o coração do Coronel palpitasse ao ritmo do samba-se-roda do Recôncavo Baiano. Ele jamais esqueceria aquela data.

 

O Coronel não podia perder tempo! Como exímio conquistador aproximou-se da graciosa morena, que trajava vestido longo de “branco e translúcido algodão cru” a contornar seu lindo e esbelto corpo.

 

De chapéu na mão, aproximando-se elegantemente, o Coronel teceu-lhe as mais belas e sinceras palavras elogiosas, inspiradas do fundo de seu coração a primeira vista apaixonado, sendo satisfatoriamente retribuído por um sorriso belo e franco da graciosa dançarina.

 

Com o costumeiro respeito e simpatia apresentou-se elegantemente para a bela, expressando o desejo de conhecê-la, tão grande era o seu encantamento.

 

Foi no cortejo profano da Lavagem das escadarias da Igreja do Bonfim da Bahia, em meio a um misto de carnaval em que a fé católica cinge-se com a mais marcante e profunda expressão da cultura religiosa afro-brasilieira, ao som do samba-se-roda e do afoxé dos Filhos de Gandi, ecoado dos atabaques do Candomblé da Baía de Todos os Santos, que o Coronel José Telêmaco, filho de Ulisses e Penélope, conheceu a bela e doce Açucena da Bahia.

 

 

 

Capítulo II – Uma Paixão Fulminante

 

 

Tão grande foi a paixão que, empedernido, queimado pela insolação e embebedado pelo forte aroma da água-de-cheiro das Baianas, nocalteado, o Coronel foi conduzido pelo SAMU 195 para a emergência do Hospital de Doenças Tropicais da Bahia, o único de plantão na Cidade Baixa. Lá chegou a ser erroneamente diagnosticada Malária, posto que o Coronel era proveniente da Amazonia: Errado! era tão somente uma paixão efusiva de um Coronel por uma jovem nativa do Recôncavo. 

 

Em meio ao pôr-do-sol da Baia de Todos os Santos, avistado pela ótica do forte de Mont Serrat, cume da Peníssula Itapagipana, na Cidade Baixa da Bahia, já reconvalecido do mal súbito, caiu a noite do dia mais conturbado e intigrante da vida do Coronel.

 

Consultada antecipadamente, Açucena de pronto aceitou receber a visita do Coronel em sua cidade natal e lá estava ele dia seguinte, vestido de branco tal qual um pai-de-santo, sobre a cabeça o inseparável chapéu Panamá, em plena sexta-feira, na estação ferroviária de Cachoeira de São Félix, há 100 quilômetros da Capital Baiana. 

 

Não foi difícil encontrar na travessa Bocaiúva o sobrado do mestre Nonô Fulgêncio, pai da rainha da Roda-de-Samba. Lá estava pendurado o estandarte na janela do sobrado. Nonô recebeu bem o visitante que já era esperado em sua humilde e acolhedora residência.

 

Animou-se a prosa depois de servido água e café. Estava iniciada a amizade com respeitoso Coronel. Açucena, sempre alegre e sorridente o convidou para passear no Centro-Histórico, a poucos metros de sua residência. Subiram a travessa Bocaiúva até alcançar a praça da Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte, de onde se avistava ao fundo a velha ponte de madeira construída por D. Pedro I, nos idos do Império.

 

A sombra do secular tamarineiro da praça era um convite irrecusável para merecido descanso do casal, após longa caminhada pelas ruas estreitas e sinuosas do centro antigo daquela aprazível cidade. Era também o cenário apropriado para que o Coronel pudesse expressar o amor que palpitava em seu coração. Inspirado pela musa, o Coronel arriscou até uma pequena quadra poética, recitando:

 

“...Quisera eu ser menino, para brincar feliz a sombra desse pé de tamarino... e, ao cair da tarde, repousar de alma plena nos braços de ti, minha linda Açucena...”.

 

A certeza que tinha do seu sentimento assegurava ao Coronel que ali encerrava definitivamente sua carreia de boêmio. Após ouvir atenciosamente as mais sinceras declarações de amor do Coronel Açucena, demonstrando, gratidão, se desculpou para falar do amor eterno que também nutria seu peito, tal qual o sentimento do Coronel.

 

Dali mesmo amigavelmente se despediram, sem antes ficar sabendo o Coronel que a paixão de sua amada repousava no jovem Jerônimo, cantor de afoxé, com quem perdera precocemente a virgindade. A reação do Coronel foi o seu tradicional e reiterado “não” exclamativo: não, não, não, não, não!!!  

 

Capítulo III – Retorno Triste a Amazônia Legal

 

O Coronel, que antes não costumava desistir fácil, desta vez, movido pelo sincero amor jamais sentido em seu peito, compreendeu as razões do coração de Açucena, de tanto que a verdadeiramente parecia amar, dando-lhe a opção, com o peito dolorido, de lutar pelo amor que ela sentia pelo jovem artista, pois ele também, por amor próprio, longe do egoísmos, irá seguir triste o seu destino.

 

E assim foi o Coronel mais uma vez para terras remotas, deixando para traz Açucena e toda a riqueza acumulada ao longo de uma vida próspera, embrenhando-se novamente na Selva Amazônica para, em meio às árvores, rios, animais e pássaros, poder disfarçar o seu sentimento.

 

Em Marabá não tardou conhecer uma índia da Nação dos Tapajós, com quem, desiludido do amor efêmero, resolveu conviver, enquanto se dedicava ao garimpo clandestino de ouro na Serra Pelada.

 

Açucena jamais deixou sequer por um instante de povoar o coração do Coronel.

 


 

Me observando meu amigo baiano da gema Vandilson Rosa Matos, em visita a sua Terra Natal, teceu as seguintes considerações, que gostaria de compartilhar com os leitores:

“Num campo, um caçador repousou, certo dia,

Para do sol se abrigar

E, deitado, implorava à brisa que fugia

O rosto lhe beijar.

E, enquanto assim pedia, a brisa descuidada

Fugia para além.

Chamava o caçador: “Ó vem brisa adorada!”

E Eco repetia: “Ó vem, brisa adorada!”

“Brisa adorada, vem!” (Do Livro de Ouro da Mitologia).

 

‘Caia a tarde quando os últimos peregrinos alcançava o topo da Sagrada Colina. No ápice, indo na direção do Monte Serrat concentravam-se as carroças enfeitadas, ladeadas por baianas, travestidas com seus trajes típicos brancos feito nuvem, carregando inseparáveis vasos de água-de-cheiro utilizada para bendizer o povo e para purificar as escadarias, conforme tradição secular, cultuada pelas religiões afro-brasileiras.

 

Era, pois, o ponto alto da Lavagem do Bonfim, uma verdadeira miscelânea de marcantes expressões culturais, em meio a um mar humano se limites que inundava toda a Cidade Baixa, partindo da Igreja da Conceição da Praia, contornando-se as ruas do Comércio na direção da Feira de São Joaquim até alcançar a Igreja Gótica do ...

 

De lá prosseguia o cortejo santo até o Largo de Roma para atingir as Obras Sociais de Irmã Dulce, de onde seguia-se pela Avenida Dendezeiros, rumo a Ribeira, a reta final, de onde olhares eufóricos já podem avistar, em meio as copas frondosas de imponentes palmeiras imperiais,  as majestosas torres da mais festejada igreja  da Baia de Todos os Santos.  

 

O ambiente era pleno de euforia e a festa corria ao som do toque da cadente sinfonia do afoxé Filhos de Gandhi que contaminava a atmosfera das entranhas da Península de Itapagipe, habitat natural do professor Raimundo Albergaria.

 

O Coronel experimentava algo de mais inusitado de sua vida de boêmio-viajante que fez a vida praticando sua arte de engenho nas entranhas do Brasil, dos Pampas de sua origem à Amazônia do Caprichoso e Garantido.

 

Mal sabia o que estava por vir. Ele que acabara de desembarcar em Salvador justo naquela data festiva. Não foi difícil ser convencido pelo guia do Hotel Paris, onde ficou hospedado, a participar daquela que, sem sombra de dúvidas, era a maior manifestação popular presenciada ao longo de sua existência.

 

Após mais de dez quilômetros de cortejo aonde se vai a pé e não é comum sentir cansaço, parou para contemplar um grupo de dança oriundo da cidade de Cachoeira de São Félix, conforme estampado nas letras douradas do estandarte. Era apenas um das centenas de grupos culturais que de forma espontânea se misturava com a multidão ao longo do belo cortejo. Aquele pequeno grupo de músicos e dançarinos que protagonizava um espetáculo à parte do grande conclave místico, apresentava ao público um ritmo contagiante, que acabou por atrair para seu derredor uma numerosa platéia.

 

Em meio ao êxtase da música e da dança avistou o sorriso de uma linda e jovem morena de cabelos cacheados e longos que se apresentava ao som do que o coronel a primeira vista proclamou ser a sétima maravilha das artes humanas: o samba-de-roda, a maior expressão da cultura da humanidade de todos os tempos e gêneros, segundo seus olhos e ouvidos de experiente observador a desafiar qualquer mortal sobre a sua mais recente e inusitada descoberta.

 

 

A paixão foi veloz tal qual um raio fino em noite escura de tempestade. A imagem daquela linda criatura divina, de causar inveja a Gabriela de Nacib, fez com que o coração do Coronel palpitasse ao ritmo do samba-de-roda do Recôncavo Baiano. Ele jamais esqueceria aquela cena. Como exímio conquistador aproximou-se da graciosa morena, que trajava vestido longo de branco-transparente algodão cru a contornar seu lindo corpo.

 

De chapéu na mão, aproximando se elegantemente, o Coronel teceu-lhe as mais belas e sinceras palavras elogiosas, inspiradas do fundo de seu coração a primeira vista apaixonado, sendo satisfatoriamente retribuído por um sorriso belo e franco da graciosa dançarina. Com o costumeiro respeito e simpatia apresentou-se elegantemente para a bela, expressando o desejo de conhecê-la, tão grande  era o seu encantamento.

 

Foi no cortejo profano da Lavagem das escadarias da Igreja do Bonfim da Bahia, em meio a um misto de carnaval em que a fé católica cinge-se com a mais marcante e profunda expressão da cultura religiosa afro-brasilieira, ao som do samba-de-roda e do afoxé ecoado dos atabaques do candomblé  que o Coronel conheceu a bela e doce Açucena.

 

Em meio ao pôr-do-sol da Baía de Todos os Santos avistado do forte de Monte Serrat, cume da Península Itapagipana, na Cidade Baixa da Bahia, caiu a noite do dia mais feliz da vida do apaixonado e revitalizado Coronel.

 

Açucena de pronto aceitou receber a visita do Coronel em sua cidade natal e lá estava ele dia seguinte.  Não foi difícil encontrar na travessa Bocaiúva o sobrado do mestre Nonô, pai da rainha da Roda-de-Samba Jubileu de Ouro de Cachoeira de São Félix. Lá estava identificado na janela do sobrado. Nonô recebeu bem o visitante que já era esperado em sua humilde e acolhedora residência.

 

Animou-se a prosa depois de servido água e café. Estava iniciada a amizade com respeitoso Coronel. Açucena, sempre alegre e sorridente convidou o Coronel para conhecer o Centro-Histórico de Cachoeira de São Félix, a poucos metros de sua residência. Subiram a travessa Bocaiúva até alcançar a praça da Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte de onde se avistava a velha ponte de madeira.

 

A sombra do secular tamarineiro da praça era um convite irrecusável para merecido descanso do casal, após longa caminhada pelas ruas estreitas e sinuosas do centro antigo daquela aprazível cidade. Era também o cenário apropriado para que o Coronel pudesse expressar o amor que despertava em seu coração.

 

A certeza que tinha do seu sentimento assegurava ao Coronel que ali encerrava definitivamente sua carreia de boêmio. Após ouvir atenciosamente as mais sinceras declarações de amor do Coronel, Açucena, demonstrando, gratidão e se desculpando ao falar do amor eterna que também nutria seu peito, tal qual o sentimento do Coronel.

 

Dali mesmo amigavelmente se despediram, sem antes ficar sabendo o coronel que a paixão de sua amada repousava sobre um ídolo da música popular, o cantor baiano Waldick Soriano, de quem por ironia do destino era amigo o Coronel, pois tratavam-se de bons amigos de boemia dos áureos e bons tempos da Praça Ramos, na Zona Portuária do Rio de Janeiro.

 

O Coronel, movido pelo sincero amor jamais sentido em seu peito, compreendeu as razões de Açucena, de tanto que a verdadeiramente amava, dando-lhe a opção, com o peito dolorido, de lutar pelo amor que ela sentia pelo famoso artista, pois ele também por amor a seu amor, irá seguir triste o seu destino.

 

E assim foi o coronel para terras distante, embrenhando-se novamente na selva amazônica para, em meio às arvores e rios, poder esquecer o seu sentimento.

 

Açucena lutou inspirada na paixão repentina do Coronel lutou por seu amor que ao contrário daquele era um sentimento duradouro, testado e comprovado ao longo do tempo, desde a sua adolescência. Escreveu milhares de cartas para as rádios do Rio de Janeiro. Falou aos quatro cantos. Todos da cidade já conheciam o seu sofrimento de amor pelo artista. Conhecia de cor cada uma das centenas de letras e melodias das canções do famoso artista tal como o Marivaldo do Bar do Mercadão, outro fã incondicionado do artista.’