Prezado Amigo Jair.
Segue a novíssima "Acima de Tudo o Amor" que acabo de escrever, inspirado em uma das mais virtuosas passágens reais de sua expêriencia de empresário de tino e de bom senso de justiça.
Li no site a carta de Dona Silvéria Rodrigues da Costa e seus desfechos, onde mergulhei em um "mar de humanismo", incomum em nossos dias.
Vandilson Rosa Matos.
José Telêmanco, inspirado pelos deuses, com a mesma sabedoria que consagrou Ulisses – seu pai –, herói na Grécia Antiga, como de costume foi mais uma vez feliz e vitorioso em uma concorrida licitação pública para contração de Bombeiros Civis, no âmbito do Governo do Distrito Federal.
Naqueles próximos trinta dias teria que contratar mais cem “brigadistas”, pagando salário promissor, para servir ao Palácio do Buriti, sede oficial do Governo Distrital. E assim foi dito e feito: bombeiros recrutados, currículos analisados, seleção feita, fardamento ajustado, exames, documentação, entrevistas, etc.
Sem preconceitos o Coronel contratou homens e mulheres. Mobilizou-se toda a eficiente equipe empresarial para iniciar, sem contratempos, a nova empreitada e tudo ocorreu como bem pontuado e planejado.
Os primeiros meses passaram na mais perfeita normalidade. Contrato bastante lucrativo, faturas pagas pontualmente, salários e encargos sociais rigorosamente em dia, todos felizes e satisfeitos para sempre: prosperidade recíproca para patrão e empregados e, da parte do contratante, somente elogios, nada a reclamar.
Até que um belo dia surgiu o primeiro “contratempo”. Um casal de “brigadistas” foi flagrado “namorando apaixonadamente” nas escadarias da Repartição Pública, em pleno expediente. O astuto encarregado, autor do “flagra”, não teve dúvidas: falta grave, demissão por justa causa para os dois, sem choro e sem vela, imediatamente, sem perda de tempo. A sentença estava escrita.
Naquele dia, por um acontecido que os simples mortais insistem em chamar de coincidência, José Telêmanco resolveu ir supervisionar pessoalmente os trabalhos na Repartição e deparou-se com o mal entendido. No instante em que chegava o implacável encarregado fazia as pertinentes admoestações ao “casal de pombinhos”, antes de passar-lhe o veredito final.
Telêmanco, presente no local dos fatos, para si avocou a problemática indagando o que estava acontecendo, ao que foi detalhadamente comunicado dos fatos. Convidou os amantes para uma conversa reservada no escritório da empresa, a fim de evitar alardes e “disse-me-disse”.
Falou em alto e bom tom: - O que foi que aconteceu com vocês? Esqueceram da responsabilidade do trabalho?
- Desculpe-nos, bom Coronel. Reconhecemos o nosso erro e estamos preparados para sermos despedidos agora! redargüiram quase que simultaneamente os amantes.
Para a surpresa de todos, ponderou em tom ameno o Coronel:
- Querem saber a verdade, há cinco longos anos luto incansavelmente por um amor aparentemente impossível. O destino quis que eu, José Telêmanco, deus da comunicação, viesse a me apaixonar por uma jornalista. Amor não correspondido. Admiro vocês que se encontraram e que encontram tempo para amar exageradamente, até no ambiente do trabalho.
Falando com firmeza disse o Coronel: - Eu vos indago: há quanto tempo o amor permeia vossos corações?
A amante respondeu: - há três meses realizei, ao mesmo tempo, meu objetivo de vida: encontrei um emprego digno, para o qual me preparei fazendo um curso, e no trabalho conheci o homem da minha vida, este que está aqui ao meu lado.
- Comigo não foi diferente, pode crer, bom Coronel. Resumiu o varão.
- Se o amor se faz presente em vossos corações, então por que não se casam? Querem saber, a vida de casado não é ruim. Dividem-se as despesas, um ajuda o outro e ainda dá tempo para namorar confortavelmente à noite, sem ralar os joelhos nas escadas, concluiu bem humorado o Coronel.
- Por um vacilo destes poderíamos até perder o contrato na Repartição!
- Não, não, não! Não vou despedir vocês, pois tenho consciência que amar não é pecado. Ninguém pode ser punido por amar. Volte para o trabalho amem-se para sempre e não errem jamais. Façam sempre a coisa certa.
Seguindo os conselhos do benfeitor o casal contraiu núpcias e assim prosperaram e viveram felizes para sempre. O Coronel inspirou sua boa ação acima de tudo na Carta que São Paulo escreveu para os Coríntios, presente na Bíblia Sagrada, que, tratando do Dom Supremo, assim a todos nos ensina:
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e a dos anjos, se eu não tivesse o amor, seria como o sino que soa, ou como o címbalo estridente.
Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência; ainda que eu tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse o amor, eu não seria nada.
Ainda que eu distribuísse todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregasse meu próprio corpo para ser queimado, se não tivesse o amor, nada disso me adiantaria.
O amor é paciente, o amor é prestativo; não é invejoso, não se ostenta, não se incha de orgulho, nada faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor.
Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade.
Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor jamais passará. As profecias desaparecerão; as línguas cessarão; a ciência também desaparecerá. Pois o nosso conhecimento é limitado; limitada também é nossa profecia. Mas quando vier a perfeição, desaparecerá o que é limitado.
Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Depois que me tornei adulto, deixei o que era próprio de criança.
Agora vemos como em espelho e de maneira confusa; mas depois veremos face a face; Agora o meu conhecimento é limitado, mas depois conhecerei como sou conhecido.
Agora, portanto, permanecem estas três coisas: a Fé, a Esperança e o Amor. A maior delas, porém, é o Amor".
Prezado Coronel Jair.
Eis aqui a síntese da Odisséia de Homero. Para facilitar a leitura, elaborei hoje a tabela exposta ao final, com os nomes e descrição das principais personagens.
Provavelmente seu avô tenha se inspirado nesta história para escolher o nome de seu pai, Ulisses. Portanto, revivê-la é resgatar a cultura de seus antepassados. É restaurar elos: “beber água na fonte”.
Num exercício de ficção, o Cel. Jair de hoje seria Telêmanco, filho de Ulisses e de Penélope, que estava grávida quando o herói foi para a guerra, somente retornando a Ítaca, para reencontrar sua esposa e conhecer seu filho vinte anos depois: dez anos lutando em Tróia e dez anos vagando no Oceano.
Desejo, portanto, ao Cel. Jair Telêmanco – o filho de Ulisses –, uma boa leitura da síntese desta que é considerada a obra literária mais antiga da humanidade, cuja compilação remonta a mais de 200 anos a.C.
Brasília (DF), 02 de Agosto de 2010.
Bel. Vandilson Rosa Matos.
PRÉVIA IDENTIFICAÇÃO DOS PERSONAGENS
Personagens |
Identificação |
Ulisses |
Rei de Ítaca |
Menelau |
Rei de Esparta |
Agamênon |
Rei de Atenas |
Telêmanco |
Filho de Ulisses |
Penélope |
Esposa de Ulisses |
Aquiles |
Herói Grego |
Héctor |
Guerreiro Troiano |
Príamo |
Pai de Héctor |
Nifas do Mar |
Deusa Grega |
Posseidón |
Deus Grego |
Tétis |
Mãe de Aquiles |
Eurículo |
Soldado Grego |
Laecon |
Guerreiro Troiano |
Neoptólomo |
Filho de Aquiles |
Polífemo |
Um ciclope, filho de Posseidóm |
Éolo |
Rei da Ilha de Éolia |
Antícolos |
Guerreiro da tripulação de Ulisses |
Circe |
Feiticeira, esposa de Baco |
Hermes |
Deus Grego |
Tirésias |
Profeta do Mundo Inferior |
Laerte |
Pai de Ulisses |
Cila |
Filha de Forco e de Hécate |
Caríbide |
Filha de Netuno e da Terra |
Glauco |
Deus Marinho |
Calípso |
Amante de Ulisses |
Ino |
Ninfa Marinha |
Nausícaa |
Princesa Faeciana filha de Alcínoo e de Arete |
Eumeu |
Pastor de Ítaca |
Argos |
Cão de Ulisses |
Euméia |
Ama do Palácio de Ítaca |
Eurímaco |
Pretendente de Penélope |
Antínoo |
Pretendente de Penélope |
SÍNTESE DA ODISSÉIA DE HOMERO
Introdução
A Odisséia de Homero é a maior epopéia escrita pelos gregos. Trata-se de um poema em verso e prosa, uma exaltação do povo grego ao herói mortal Ulisses. Acredita-se que tenha acontecido entre os séculos XII e VIII a.C.
Tudo começou quando Menelau e Agamênon convocaram todos os reis e nobres da Grécia para ajudá-los a montar uma expedição contra Tróia. Agamênon era o líder da força Grega e Rei de Atenas, enquanto seu irmão mais velho, Menelau, era Rei de Esparta.
Após a convocação, os heróis gregos afluíram de todos os cantos do continente e das ilhas para o porto de Áulis, o ponto de reunião a partir do qual planejavam velejar através do Mar Egeu até Tróia.
Alguns dos heróis foram a Áulis mais facilmente do que outros. Ulisses, que conhecia a profecia de que se fosse a Tróia não retornaria antes de vinte anos e que não desejava se ausentar de Ítaca – Reino Próspero onde vivia em perfeita harmonia com seus súditos e com sua esposa que estava grávida –, fingiu loucura tentando se livrar da árdua missão quando Menelau e Agamênon chegaram para convocá-lo.
Porém, a farsa de Ulisses foi revelada quando uma criança foi colocada propositalmente à frente de seus cavalos em uma corrida de bigas. Completamente senhor de suas sanidades, o primeiro reflexo foi salvar a criança, caindo assim a máscara de sua farça.
O motivo pelo qual Ulisses não intencionava lutar na Guerra de Tróia era simples: segundo a profecia, ele passaria dez anos lutando em Tróia e por outros dez anos singraria os oceanos, naufragando, acabando por ficar desprovido de todos os seus companheiros, freqüentemente com a vida por um fio, até que no vigésimo ano chegaria novamente às praias de sua terra natal, a ilha rochosa de Ítaca, onde seu filho Telêmaco e sua esposa Penélope o esperavam.
A Guerra de Tróia
A grande força grega, cujos maiores heróis eram Agamênon, Menelau, Ulisses e Aquiles, estava pronta para partir. E assim foi. No sétimo ano de guerra, os troianos tinham fugido da matança de Aquiles e buscado refúgio atrás de suas muralhas, mas Hector permaneceu fora dos portões, deliberadamente esperando pelo duelo que sabia ter que enfrentar. Quando Aquiles finalmente surgiu, Hector foi tomado de compreensível terror e virou-se para fugir. Percorreram três voltas ao redor das muralhas de Tróia antes que Hector parasse e destemidamente enfrentasse seu bravo oponente.
A lança de Aquiles alojou-se na garganta de Hector, caindo este ao chão. Mal podendo falar, Hector pediu a Aquiles que permitisse que seu corpo fosse resgatado após sua morte, mas Aquiles, estando furioso, negou seu apelo e começou a sujeitar seu corpo a grandes indignidades. Primeiro o arrastou pelos calcanhares atrás de sua biga, ao redor das muralhas da cidade, para que toda Tróia pudesse ver. A seguir levou o corpo de volta ao acampamento grego, onde este ficou jogado sem cuidados em choupanas.
Após a morte de Hector, um grande número de aliados veio ao auxílio dos troianos, incluindo as Amazonas e os Etíopes. Todos foram mortos por Aquiles, mas ele sempre soube que estava destinado a morrer em Tróia, longe de sua terra natal.
Príamo, pai de Hector, pede ajuda às Ninfas do Mar e a Posêidon, querendo saber o ponto fraco de Aquiles e descobre que a mãe sua mãe, Tétis, quis tornar seu filho imortal e quando este era ainda um bebê, levou-o ao Mundo Inferior e o submergiu nas águas do rio Estige; isto tornou seu corpo imune aos ferimentos, exceto pelo calcanhar, o qual ela utilizou para segurá-lo, justamente onde foi atingido pela flecha lançada do arco de Príamo.
Após a morte de seu maior campeão, os gregos recorreram à astúcia nos seus esforços de capturar Tróia, que tinha agüentado seu cerco por dez longos anos. Ulisses teve a idéia de construir um cavalo de madeira para ser ofertado aos troianos, como símbolo de sua rendição. Ao ficar pronto, um grupo composto pelos gregos mais corajosos, incluindo Ulisses, entrou no cavalo e rumaram a Tróia.
O cavalo de madeira foi ofertado a Príamo por Euríloco, um grego que fingia trair seu povo em troca de perdão. Laocoon, que considerado adivinho em Tróia, alertou que o presente era uma armadilha. Disse ainda que os troianos não deveriam confiar no presente dos gregos. Logo em seguida as serpentes de Posêidon o enlaçaram e estrangularam. Com este augúrio, os troianos não hesitaram mais e começaram a mover o grande cavalo para dentro de suas muralhas, derrubando suas fortificações de modo a poder fazê-lo entrar. Hoje em dia usa se muito a expressão "presente de grego", que surgiu nessa ocasião.
Ao cair da noite, os heróis que estavam confinados dentro do cavalo, estando pronta a cena para o saque de Tróia, saíram de seu esconderijo e começaram a matança. Os homens lutaram desesperadamente, resolvidos a vender caro suas vidas, horrorizados pela visão de suas mulheres e filhos sendo arrancados de seus refúgios para serem mortos ou aprisionados. Mais deplorável foi a morte de Príamo, assassinado no altar de seu parque por Neoptólemo, filho de Aquiles.
Ao findar a batalha, Ulisses chega a beira mar e desafia os deuses dizendo: "Viram, deuses do mar e do céu, eu conquistei Tróia. Eu, Ulisses, um mortal de carne e osso, de sangue e mente. Não preciso de vocês agora. Posso fazer qualquer coisa". Posêidon, sentindo-se ofendido pergunta o porquê de estar sendo desafiado e lembra de que sua ajuda foi crucial ao mandar suas serpentes matar Laocoon, só assim o cavalo pôde ser introduzido em Tróia.
Irado por Ulisses recusar-se a agradecer e por sua arrogância, Posêidon diz que os homens não são nada sem os deuses e o condena a vagar para sempre em suas águas e nunca mais voltar a costa de Ítaca. Ulisses não se arrepende e diz que nada nunca o deterá.
Seguem-se dez longos anos até que Ulisses volte a sua terra natal, sendo este período narrado a seguir.
Ilha dos Ciclopes
Os ciclopes eram uma raça de fortes gigantes de um só olho, que ocupavam uma fértil região onde o solo gerava abundantes plantações por conta própria, fornecendo um pasto farto para as gordas ovelhas.
Ansioso para encontrar os habitantes de tal terra, Ulisses direcionou o navio para o porto e, desembarcando, dirigiu-se juntamente com a tripulação à caverna do ciclope Polifemo, um filho de Posêidon. O ciclope não estava em sua caverna, fora cuidar de suas ovelhas. Assim, Ulisses e a tripulação ficaram à vontade, até que ele retornou com o seu rebanho ao crepúsculo.
Polifemo era forte, monstruoso e terrível e após algumas poucas perguntas sobre a origem e o que desejavam seus hóspedes inesperados, agarrou um deles e fez seus miolos saltarem ao chão antes de devorá-lo. Ele considerou matar cada um dos homens de Ulisses para comê-los, mas o guerreiro usou sua inteligência para fazer com que o ciclope acreditasse que carregava magia em sua mente. Ulisses considerou esfaqueá-lo até a morte, mas desistiu da idéia quando percebeu que a fuga seria impossível, pois a entrada da caverna tinha sido bloqueada com uma grande rocha, a qual o ciclope podia erguer com uma só mão, mas seria impossível de mover mesmo com a força combinada de Ulisses e seus companheiros.
Então, o inteligente Ulisses ofereceu-lhe uma tigela de forte vinho, que o ciclope bebeu com entusiasmo e pediu para que fosse reenchida três vezes. Num estupor de embriaguez, deitou-se para dormir. Porém, antes de adormecer, perguntou o nome de seu hóspede. Ulisses respondeu que era "Outis", ou seja, "Ninguém" em grego; Polifemo prometeu que em retribuição pelo vinho comeria "Ninguém" por último.
Assim que o monstro dormiu, Ulisses e seus homens fizeram uma estaca de madeira, aqueceu a ponta da mesma no fogo e quando ela ficou em brasa ele e quatro de seus melhores homens enterraram a ponta no olho único do ciclope. Rudemente acordado pela dor terrível, Polifemo urrou e rugiu, chamando seus irmãos e afastando a pedra que fechava a entrada da caverna. Mas quando seus irmãos se agruparam do lado de fora de sua caverna e perguntaram quem o estava incomodando, quem o tinha ferido, sua única resposta foi: "Ninguém" me incomodou: "Ninguém" me feriu! Assim, seus irmãos acabaram perdendo o interesse e se retiraram.
Polifemo tentou agarrar a tripulação de Ulisses que estava saindo juntamente com as ovelhas, mas estes passaram a salvo por suas mãos, Ulisses por último. Guiando as ovelhas para o seu navio, eles trataram de zarpar rapidamente, apesar de Ulisses não resistir e zombar do ciclope, que respondeu atirando pedaços de penhascos na direção de sua voz. Alguns chegaram a cair muito próximos do barco.
Ulisses reuniu-se ao restante da esquadra e, enquanto os marinheiros pranteavam os companheiros perdidos, consolaram-se com as próprias ovelhas que tinham auxiliado sua fuga da caverna.
Na Ilha dos Ciclopes, Ulisses aprendeu que nunca deveria reclamar dessa ou de outra situação, pois as coisas sempre poderiam ser pior do que já são. O melhor nessas ocasiões é lutar com afinco e usar de astúcia para ultrapassar os obstáculos. Só assim puderem vencer o obstáculo e partir para a próxima batalha, que aliás, foi a primeira de uma série na luta para voltar para casa.
Ilha de Éolo
Da Ilha dos Ciclopes, Ulisses velejou até chegar à ilha flutuante de Eólia, cujo rei, Éolo, tinha recebido de Zeus o poder sobre todos os ventos.
Éolo recebeu Ulisses e sua tripulação de maneira hospitaleira e, ao chegar a hora da partida, Éolo deu a Ulisses uma bolsa de couro na qual tinha aprisionado todos os ventos tempestuosos; a seguir, invocou uma boa brisa para o oeste que levaria os navios a salvo para casa, em Ítaca.
Eles velejaram no curso por nove dias e estavam à vista de Ítaca quando o desastre os atingiu. Ulisses, que tinha ficado acordado durante toda a jornada segurando o leme do barco, caiu num sono exausto, e sua tripulação, não sabendo o que havia na bolsa de couro, instigados por Ânticlos começaram a suspeitar que continha um valioso tesouro que Éolo teria dado a ele. Ficaram enciumados, sentindo que tinham enfrentado as situações difíceis com Ulisses, devendo também compartilhar suas recompensas: acabaram por abrir a bolsa e acidentalmente libertaram os ventos do leste, que os manteria bem longe de Ítaca. Ulisses acordou no meio de uma medonha tempestade, que soprou o navio de volta a Eólia.
Desta vez a recepção dada a Ulisses e a seus companheiros foi bastante diferente. Eles pediram que Éolo lhes desse uma nova chance, mas, este declarando que Ulisses devia ser um homem odiado pelos deuses, negou-se terminantemente a ajudá-los, mandando embora Ulisses e seus companheiros.
Na Ilha de Éolo Ulisses pode aprender que a curiosidade leva a lugares não desejados. Ele quase chegou ao seu destino, porém teve que pagar pela curiosidade de sua tripulação, ficando assim, cada vez mais distante de casa.
Ilha de Circe Num estado considerável de pesar e depressão, Ulisses e seus companheiro sobreviventes do terrível desfecho causado pela curiosidade, viram-se na ilha de Aca. Desembarcando, permaneceram deitados dois dias e duas noites na praia, completamente exaustos pelos seus esforços, desmoralizados pelos horrores que tinham passado e sem comida ou água. No terceiro dia, alguns homens comandados por Euríloco, saíram para fazer o reconhecimento da área e chegaram ao palácio que existia no alto de uma montanha. Do lado de fora haviam lobos e leões, que cabriolavam e faziam festa aos homens; eram de fato seres humanos que tinham sido transformados em animais pela feiticeira Circe, cujo lindo canto podia ser escutado do exterior da casa. Circe era esposa de Baco, uma poderosa bruxa, que seduzia com seu canto e beleza, os homens famintos que ali chegavam oferecendo-lhes vinho e mel. Quando os homens de Ulisses gritaram para chamar sua atenção, ela saiu e os convidou-os a entrar; apenas Euríloco, suspeitando de algum truque, permaneceu do lado de fora. Circe ofereceu comida aos homens, no qual continha uma droga que os faria esquecer de sua terra natal; quando terminaram de comer, os tocou com sua varinha e os transformou em animais, apesar de infelizmente lembrarem quem realmente eram. Em pânico, Euríloco voltou correndo ao navio para relatar o desaparecimento de seus companheiros. Ulisses ordenou que o levasse de volta à casa de Circe, mas ele se recusou. Ulisses partiu só para o resgate. No caminho através da ilha, encontrou Hermes. O deus deu-lhe uma planta mágica, a qual, misturada com a comida de Circe, seria um antídoto para sua droga; também o instruiu como lidar com a feiticeira: quando Circe o tocasse com sua varinha, deveria avançar sobre ela como que para matá-la; ela então recuaria com medo e o convidaria a compartilhar de sua cama. Deveria concordar com isso, mas deveria fazê-la jurar solenemente a não tentar truques enquanto estivesse vulnerável. Os fatos se passaram como Hermes tinha previsto. Após terem ido para a cama, Circe banhou Ulisses e o vestiu com roupas finas, lhe preparou um suntuoso banquete, mas Ulisses sentou-se numa abstração silenciosa, recusando toda a atenção. Circe acabou lhe perguntando o que estava errado, e disse-lhe que ela não poderia esperar que estivesse de corpo e alma na festa enquanto metade de sua tripulação transformara-se em animais. Então Circe libertou os novos animais e os untou com ungüento mágico. Seus pêlos rijos caíram e se tornaram novamente homens. Circe sugeriu que deveriam chamar o restante de sua companhia para que se juntassem à eles. Ficaram com Circe por cinco anos, comendo, bebendo e se divertindo, esquecendo os percalços que tinham passado. Na Ilha de Circe, Ulisses aprendeu que toda boa notícia é acompanhada por outra má. Apesar de ter encontrado bebida e comida, justamente o que estavam procurando, ficaram presos ao encanto de Circe por cinco anos, retardo assim o retorno a Ítaca. |
|
|
Hades - O Mundo Inferior
Ulisses foi lembrado por alguns dos companheiros que talvez fosse tempo de se pensar em Ítaca. Circe avisou-o que antes de zarpar para casa deveria primeiro visitar o Mundo Inferior (ou reino dos mortos) para consultar o profeta Tirésias: apenas Tirésias poderia dar-lhe instruções para seu retorno.
Assim, Ulisses velejou com seu navio através do Rio de Oceano. Ele levava uma carneiro para oferecer a Tirésias. Quando esse apareceu, disse-lhe que havia uma boa possibilidade para seu retorno a salvo para casa, desde que seguisse a constelação de Órion.
Ulisses teve a oportunidade de reencontrar sua velha mãe, relatou-lhe como tinha morrido e fez um triste relato do estado lamentável de seu pai Laerte e os bravos esforços de Penélope para repelir seus pretendentes.
O bravo guerreiro aprendeu em Hades que precisava mergulhar no subterrâneo de sua alma para encontrar o caminho. Podemos guardar como exemplo essa façanha, nada melhor que uma inspeção em nossas almas para conseguir resolver todos os problemas.
Estreito de Cila e Caríbde
A próxima tarefa enfrentada por Ulisses foi navegar os dois locais mais perigosos de Cila e Caríbde.
Conta a lenda que Caríbde era filha de Netuno e da Terra e, por ter roubado bois que pertenciam a Hércules, foi fulminada por Júpiter e transformada em sorvedouro marinho.
Ela uniu-se a Cila que era uma ninfa de grande beleza, filha de Forco e de Hécate. Glauco, o deus marinho, apaixonou-se pela jovem Cila, mas esta desprezou seu amor, o que o fez recorrer as artes mágicas de Circe. A feiticeira, que por sua vez amava Glauco, fingiu ajudá-lo e derramou sucos de ervas mágicas, de maléficos poderes, nas águas em que a ninfa costumava banhar-se.
Sob o poder das plantas, Cila transformou-se em um monstro horrendo, e mesmo assim Glauco não se uniu a Circe, pois ficou horrorizado com a sua feitiçaria. Foi lamentável, mas o deus marinho perdeu a ninfa Cila, que permaneceu para sempre na água ao lado de Caríbde, o sorvedouro.
Vem daí a expressão de Ulisses "Fugir de Cila para cair em Caríbde".
Cila ocultava-se numa caverna localizada no alto de um rochedo, disfarçada pela névoa e vapor de água dos vagalhões abaixo; possuía doze pés que balançavam no ar e seis pescoços, cada um equipado com uma monstruosa cabeça com três fileiras de dentes. Da sua caverna exigia uma taxa de vítimas humanas dos barcos que passavam abaixo. Ulisses, alertado por Circe, decidiu não contar a seus marinheiros sobre Cila.
Caríbde era um terrível redemoinho, que alternativamente sugava e atirava para cima a água; os marinheiros prudentes que escolheram evitá-lo foram forçados a encontrar a igualmente terrível Cila, passando mais ao largo possível de Caríbde e, apesar de Ulisses estar armado e preparado para lutar com ela pela vida da tripulação, conseguiu escapar de sua vigilância e teve sucesso em arrebatar seis vítimas aos berros.
Nesta jornada, Ulisses aprendeu que é muito melhor lidar com o inimigo do que com falsos amigos. Ele estava preparado para lutar com Cila, pois já conhecia seus perigos, mas não esperava que o estreito de Caríbde, cheio de águas calmas fosse tão apavorante.
Ilha de Calipso
Calipso tornou Ulisses seu amante e ficou com ele por sete anos. A deusa Athena acabou enviando Hermes, mensageiro dos deuses, para explicar à ninfa que era chegada a hora de deixar seu visitante seguir seu caminho.
Calipso, apesar de relutante em perdê-lo, sabia que deveria obedecer, assim forneceu a Ulisses material para a confecção de uma jangada, deu-lhe comida e bebida e invocou um vento suave para levá-lo de volta a Ítaca.
Sem incidentes, aproximou-se da terra dos Faécios, grandes marinheiros que estavam destinados a levá-lo na última etapa de sua viagem.
Mas então Posêidon interveio: detestava Ulisses pelo que tinha causado a seu filho, o Ciclope Polifemo, e agora estava irado por vê-lo tão próximo do fim de sua jornada. Enviou outra tempestade, que partiu o mastro da jangada e a deixou ser levada pelo vento.
Ulisses foi salvo da morte certa pela intervenção da ninfa marinha Ino. Ela deu-lhe seu véu, instruindo-o a atá-lo ao redor da cintura e então a abandonar o barco e se dirigir para a praia. Como uma grande onda despedaçou sua jangada, Ulisses fez o que tinha lhe sido dito. Por dois dias e duas noites nadou em frente, mas no terceiro dia alcançou as praias de Faécia e acabou conseguindo chegar à costa rochosa na foz de um rio.
Atirou o véu de Ino de volta ao mar e deitou-se numa moita espessa para dormir.
Em Ogigia, ilha de Calipso, Ulisses desobriu que é melhor ficar a vida toda procurando por sua esposa amada do que desfrutar de uma vida cheia de conforto ao lado de uma pessoa que não ama.
Ilha de Faécia Inspirada por Athena, a princesa Faeciana Nausícaa havia escolhido aquele mesmo dia para uma ida à foz do rio para lavar roupas nas fundas lagoas que lá existiam. Quando ela e suas criadas terminaram a lavagem e espalharam as roupas sobre os seixos, brincaram com uma bola enquanto esperavam que as roupas secassem. Nausícaa atirou a bola para uma das criadas, esta não conseguiu segurar e acabou caindo no rio; todas as moças gritaram alto e Ulisses acordou de seu sono, imaginando em que terra selvagem tinha chegado agora. Dirigiu-se a Nausícaa numa súplica, pedindo-lhe para mostrar o caminho para a cidade. Ela deu-lhe comida e bebida, e ele a acompanhou juntamente com as outras moças de volta aos arredores da cidade. A princesa deixou Ulisses no centro da cidade e sugeriu que fosse direto à casa de seu pai Alcínoo e caísse aos pés de sua mãe Arete com uma súplica. Guiado pela própria Athena, Ulisses chegou ao esplêndido palácio de Alcínoo. Havia paredes de bronze e portões de ouro, guardados por cães de guarda de ouro e prata. Dentro do palácio, a luz era fornecida por estátuas de ouro maciço mostrando jovens portando tochas. Dentro do pátio havia um lindo jardim e horta, com árvores frutíferas, vinhas e uma bem aguada cobertura vegetal. Após ter admirado tudo isso, Ulisses entrou e caminhou diretamente em direção à rainha Arete, os Faécios escutaram com espanto sua petição: pediu abrigo e para ser transportado para sua terra natal. Quando se recobrou de sua surpresa inicial, Alcínoo foi generoso na sua reação. Polidamente, evitou questionar seu hóspede imediatamente, arranjou-lhe um descanso imediato, prometendo que pela manhã medidas seriam tomadas para retorná-lo a sua terra. Quando os outros Faécios se retiraram e Ulisses ficou a sós com Alcínoo, Arete perguntou-lhe quem era. Ulisses, então, contou a estória de suas aventuras desde que tinha deixado a ilha de Ogigia, explicando como tinha encontrado Nausícaa na foz do rio. Enquanto isso, Arete arranjou que um leito fosse arrumado e Ulisses ficou grato em se retirar. No dia seguinte um barco foi emparelhado para transportar Ulisses de volta à sua casa, mas antes de partir, o hospitaleiro Alcínoo insistiu em festejar seu hóspede e regalá-lo com esportes e outros entretenimentos. Alcínoo pediu a Ulisses que lhes contasse quem era, de onde vinha e para onde desejava ser transportado. Ulisses diz que não pode pronunciar seu nome, que há muito tempo foi amaldiçoado e que se o disser somente causará dor àqueles que o acolheram. Então o rei diz que só conhece um herói perdido e, mesmo amaldiçoado pelos deuses, sobreviveu. Ulisses diz a Alcínoo seu nome e o rei sente-se honrado em ter a presença do herói em seu reino. Na manhã seguinte Ulisses despediu-se finalmente de seus anfitriões e um rápido barco Faeciano o conduziu sem incidentes a Ítaca. Ulisses dormiu quando o barco percorria sua rota, e estava ainda adormecido quando a tripulação o colocou, juntamente com os presentes recebidos dos Faécios, na praia de Ítaca, ao lado de uma maravilhosa caverna, morada das ninfas. Quando Ulisses acordou não conseguiu reconhecer o local, em grande parte porque Athena tinha lançado uma névoa sobre a ilha, para lhe dar tempo de encontrar Ulisses e lhe arranjar um disfarce adequado. Como estava nervosamente se perguntando onde os traiçoeiros Faécios o tinham desembarcado, Athena apareceu na forma de um pastor e, em resposta às suas perguntas, contou-lhe que estava realmente em Ítaca. O cansado Ulisses contou a deusa uma história sobre ser um exilado cretense; ela sorriu diante de sua inteligência e em resposta revelou sua verdadeira identidade, reafirmando-lhe que estava realmente em Ítaca, e o aconselhou como deveria proceder para reconquistar sua esposa e reino. Quando Ulisses reconhece seu erro e aprende que é apenas um homem, consegue finalmente voltar à sua ilha de Ítaca.
|
|
|
Retorno à Ítaca
Nos vinte anos que Ulisses esteve fora de casa, a maioria do povo de Ítaca, fora sua esposa Penélope, seu filho Telêmaco e uns poucos amigos fiéis, acreditava que estava morto, que tinha morrido em Tróia ou na sua viagem de volta. Como Penélope não era apenas bonita e completa, mas também rica e poderosa, sendo que o homem que casasse com ela herdaria a riqueza e a posição de Ulisses, estava sendo acossada por pretendentes jovens e nobres que permaneciam no palácio de seu marido, comendo e bebendo suas provisões e forçando suas atenções indesejadas sobre ela.
Pelo período que pode, Penélope ganhou tempo, convencendo cada um que havia base para esperança, mas não dizendo nada definitivo a qualquer um deles. Por três anos os enganou, dizendo que estava tecendo um manto para Ulisses; seria inadmissível que ele morresse sem que tivesse uma mortalha pronta; portanto deveriam aguardar sua decisão até que tivesse terminado sua tarefa. Todos os dias trabalhava no tear, mas à noite desfazia seu trabalho sob luz de tochas. No início do quarto ano, entretanto, foi traída por uma de suas criadas, que ajudou seus pretendentes a pegá-la no seu artifício.
Pouco antes da chegada de Ulisses em Ítaca, Athena inspirou Telêmaco, agora com idade para desempenhar um papel ativo no retorno de seu pai, a fazer uma jornada com o objetivo de descobrir o que lhe tinha acontecido. O jovem se dirigiu ao magnificente palácio de Menelau, em Esparta. O rei o tratou com grande bondade, e explicou como tinha ficado sabendo de um Velho Homem do Mar que Ulisses havia morrido.
Quando Ulisses chegou a Ítaca, Telêmaco estava voltando para casa; os pretendentes, irritados e um pouco alarmados pelo comportamento de Telêmaco, planejaram emboscar seu barco durante o seu retorno mas, com a ajuda de Athena, ele escapou desta armadilha e chegou a salvo em casa.
Athena aconselhou Ulisses a não ir diretamente à cidade mas, ao contrário, procurar abrigo com o pastor Eumeu, que vivia numa fazenda um pouco distante. Disfarçado como um mendigo, ele fez como sua patronesse sugeriu, e foi muito bem recebido por Eumeu, cuja explanação sobre a situação na cidade era entremeada com elogios a seu senhor ausente e preces para seu retorno a salvo.
O pastor serviu a Ulisses uma refeição composta de carne, queijo e vinho, e arrumou uma confortável cama perto do fogo; ele próprio passou a noite do lado de fora, cuidando da propriedade de seu senhor ausente. Depois, Eumeu contou a história de sua vida a Ulisses, disse que tinha nascido de pais nobres mas sendo raptado por mercadores fenícios quando era criança, para ser vendido como escravo em Ítaca.
Na manhã seguinte, Telêmaco chegou a ilha e, guiado por Athena, seguiu diretamente para a cabana do pastor. Enquanto Eumeu seguiu para a cidade para contar a Penélope que Telêmaco estava de volta, Athena dissolveu o disfarce de Ulisses e solicitou que revelasse a identidade ao filho. Telêmaco a princípio relutou em acreditar que o mendigo na cabana do pastor era realmente seu pai, mas acabou convencendo-se e os dois choraram juntos, de alegria e alívio.
Ao se recobrarem fizeram planos: Ulisses seguiria Telêmaco de volta à cidade e iria esmolar em seu próprio palácio. Lá, avaliaria a situação e esperaria a oportunidade ideal para atacar; quando esta ocasião chegasse, sinalizaria para Telêmaco e, então, os dois, com a ajuda de Zeus e Athena, dariam cabo dos miseráveis pretendentes.
Do lado de fora, sobre um monte de esterco, estava um velho cão, doente e debilitado. Quando escutou a voz de Ulisses, ergueu as orelhas e moveu alegremente sua cauda. Ulisses o reconheceu imediatamente e, tocado por sua aparência, disfarçadamente verteu uma lágrima. Ao comentar a aparência dilapidada do cão com Telêmaco, este último respondeu que há vinte anos nenhum cão podia vencer Argos, ou farejar melhor, mas na ausência de seu senhor envelheceu e ficou malcuidado. Quando os dois entraram no prédio, Argos morreu em silêncio, feliz de ver seu senhor novamente após vinte longos anos.
Como seria previsível, Ulisses foi agredido e insultado pelos pretendentes quando tentou esmolar no seu próprio salão. Eles zombaram de seus andrajos e o ameaçaram. Penélope foi subitamente inspirada a se mostrar aos pretendentes. Assim, desceu ao salão, onde sua beleza encheu a todos com desejo; repreendeu Telêmaco por permitir que insultassem o mendigo em sua casa, voltando-se então aos pretendentes e sugerindo que, ao invés deles consumirem sua casa, seria mais adequado que lhe trouxessem presentes.
Os pretendentes concordaram e, para prazer de Ulisses, trouxeram finos presentes de tecidos e jóias. Ao cair da noite, era hora de novo banquete e Ulisses fez-se útil cuidando das luzes e fogos. Eles novamente desafiaram o mendigo entre eles, e um banco foi atirado, para ser imediatamente evitado pelo seu alvo. Quando os pretendentes finalmente se retiraram para suas próprias casas para passar a noite, Telêmaco e Ulisses removeram todas as armas da sala e as guardaram num depósito. Penélope desceu então novamente para conversar com o mendigo, cuja presença tinha despertado seu interesse. Perguntou-lhe de onde tinha vindo e explicou sua própria difícil situação: os pretendentes estavam pressionando para que fizesse sua escolha entre eles, enquanto apenas desejava a volta de Ulisses.
Penélope sugeriu então que o mendigo poderia apreciar um banho e uma cama confortável. Mas o cauteloso Ulisses, entretanto, apenas permitiu que seus pés fossem lavados por uma antiga criada, assim a velha ama Euméia foi chamada para a tarefa. Euméia comentou imediatamente como o mendigo a fazia lembrar de Ulisses; ele respondeu que todos diziam o mesmo. Quando começou a lavar seus pés, Ulisses subitamente lembrou-se da cicatriz na sua perna, conseguida quando era apenas um menino. Ficou nas sombras, mas evidentemente Euméia sentiu e reconheceu a cicatriz; na excitação, derrubou a bacia com água e teria gritado alto para avisar Penélope se Ulisses não tivesse agarrado firmemente pela garganta e a instruído a não contar a ninguém quem era até que se livrasse dos pretendentes.
Durante todo este tempo, Penélope estava sentada absorta em seus pensamentos. Mas quando Euméia buscou mais água e terminou a tarefa e Ulisses estava novamente sentado ao lado do fogo, dirigiu-se novamente a ele e explicou seu dilema: deveria se casar para livrar Telêmaco do fardo de sua presença e das dos pretendentes, ou continuar a aguardar a volta de Ulisses? Perguntou-lhe se o mendigo poderia explicar o significado de um sonho recente no qual uma grande águia desceu das montanhas e abateu-se sobre seus vinte gansos de estimação, matando-os todos; a seguir, pousando num apoio do telhado, a ave disse-lhe que os gansos eram os pretendentes e ela própria era Ulisses.
O mendigo Ulisses assegurou-lhe que o sonho se tornaria verdade e que os pretendentes seriam todos destruídos, mas a cautelosa Penélope respondeu que os sonhos são confusos; aqueles que viessem através do portão de chifre se tornariam verdade, mas aqueles do portão de marfim vinham apenas para enganar. Antes de ela se retirar para seus aposentos para passar a noite, e chorar por Ulisses até que conseguiu dormir, disse ao mendigo que pretendia anunciar uma competição entre os pretendentes. Colocaria doze cabeças de machado em linha e convidaria os pretendentes a curvar o grande arco de Ulisses e mandar uma flecha diretamente através de todas as doze. Casaria com aquele que provasse ser capaz de realizar este feito, o qual Ulisses freqüentemente era capaz de realizar.
No dia seguinte, Penélope trouxe o grande arco de Ulisses e anunciou a competição aos pretendentes, cada um esperando ser o único a curvar o arco e atirar através das cabeças de machados. Telêmaco preparou o salão para a competição e tentou curvar o grande arco, dobrando-o através de seu joelho. Assim, os pretendentes tiveram, um por um, a sua vez, mas nenhum conseguiu curvar o arco, ainda mais mandar uma flecha através dos machados. Enquanto estavam experimentando suas forças. Quando um dos dois líderes dos pretendentes, Eurímaco, tentou e falhou no teste, o outro líder, Antínoo, sugeriu que adiassem isto por um dia, pois tratava-se de um dia festivo e deveriam estar se banqueteando e fazendo sacrifícios ao deus-arqueiro Apolo; sua sugestão foi completamente aprovada.
Após todos terem bebido seu primeiro brinde, Ulisses perguntou se ele poderia tentar o arco. Antínoo não concordou, mas Penélope, que estava observando a cena, insistiu que tivesse direito a uma chance; Telêmaco então interveio, mandando sua mãe de volta a seu quarto. No meio do burburinho o pastor Eumeu sorrateiramente retirou o arco e o levou a Ulisses, colocando-o nas suas mãos. Vistoriou a arma familiar, para assegurar-se que não estava danificada pelo longo desuso; então, facilmente como um músico que conhece as cordas de sua lira, ajustou uma flecha no arco e atirou através de toda a linha de machados.
Os pretendentes, pegos de surpresa, ficaram ainda mais chocados com a seqüência. Ulisses apontou uma segunda flecha, desta vez à garganta de Antínoo. Não percebendo o que estava acontecendo e pensando se tratar de um acidente, os pretendentes cercaram Ulisses furiosos, mas quando contou-lhes quem realmente era e que sua intenção era matar a todos, perceberam sua situação e tentaram atacá-lo. Ajudado pelos fiéis servos, o vaqueiro e o porqueiro, Ulisses e Telêmaco poderiam ainda estar em desvantagem pelo grande número de pretendentes, se Athena não tivesse intervindo em seu favor.
Pretendente após pretendente caiu ao chão, sendo poupados apenas o menestrel e o mensageiro, que foram pressionados a servirem contra a vontade aos pretendentes. Eles jaziam aos montes, sobre o sangue e a poeira. Ulisses, então manchado com sangue e sujeira, chamou a velha ama Euméia. Ela apontou as criadas que se desgraçaram ao servir os pretendentes limpando e arrumando o salão.
Penélope, sob a influência de Athena, tinha dormido profundamente durante o barulho da grande batalha no salão e as operações subseqüentes de limpeza. Agora foi acordada por Euméia que contou as novas sobre o retorno de seu marido. Atordoada pelo choque, não conseguia ter completa certeza que o estranho era realmente Ulisses, ou o que deveria dizer-lhe. Cautelosa como o seu marido, ela colocou-lhe um teste final instruindo Euméia a retirar de seu quarto o grande leito que Ulisses tinha construído. Ulisses sabia que o leito era impossível de ser movido, pois tinha sido construído ao redor de uma oliveira viva. Apenas quando, exasperado pela sua obstinação, descreveu a construção da cama é que Penélope ficou convencida que ele era realmente seu marido longamente desaparecido; atirou-se em seus braços e chorou.
Eles foram juntos para seu leito nupcial e finalmente puderam ficar um nos braços do outro; Ulisses contou a Penélope todas as suas aventuras e a noite se estendeu, pois a deusa Athena retardou a aurora às praias de Oceano.
Ulisses aprendeu na longa jornada ser sábio e paciente. Por isso soube o momento certo de voltar ao palácio e vencer seus inimigos. Ensinou ao seu filho que mais vale um covarde vivo, que um valente morto.