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MAIS UMA ROSA COLHIDA NA QUERÊNCIA FLORIDA DA EXIS
MAIS UMA ROSA COLHIDA NA QUERÊNCIA FLORIDA DA EXIS

 

 

- ´´ O que é um pêlo para um cavalo?``.

 

 

 

 

 

 

 

 Dia de intenso calor no Norte de Goiás (hoje, Tocantins). Quente, quente mesmo de fritar ovos nos capôs das turbinadas. Talvez o dia de maior temperatura do ano. Dia das comemorações do niver 89 do Sr Silvio Ferreira de Lima.

 

 

 

Acordei bem cedo, com o cantar dos passarinhos anunciando o raiar de um novo dia no cerrado tocantinense. A folia da passarada foi estupenda nas copas das mangueiras carregadas e nos pequizeiros com abundantes cachos  verdes claros prateados, reluzindo aos primeiros raios de sol. A florada do ipê branco despedindo-se da primavera do Tabocão. E, na Retiro, a vacada com muito leite apesar do ribeirão dos queijos, nascente do rio Tabocão estar com apenas um chorinho d`água. Assim, a flora e fauna estão clamando pela chuva que vem vindo. E eu estou indo compartilhar, com a família Ferreira, a colheita do ancião de mais uma rosa na floração da existência.

 

 

 

As queimadas tomaram conta daquele sertão. A serração de fumaça cobria a rodovia Belém-Brasília rumo Norte. Faróis da camionete acesos. Cuidado! Obras do PAC! Programa de Aceleração do Crescimento em andamento! Em especial a duplicação da avenida Bernardo Sayão, na BR-153 de Guaraí-TO.

 

 

 

Ao chegar à cidade nos deparamos com a poeira do chão misturada com a fuligem dos incêndios das pastagens, roças e matas da selva serrática do Bico do Papagaio, encontro do rio Araguaia com o Tocantins. Assim, podemos constatar que as queimadas vem de longe, há milênios usadas e abusadas pelos índios, e chegam até nós, fortes mesmo até hoje, como herança de uma prática predatória na floresta. Posso afirmar com certeza que as clareiras de campos nativos do cerrado são oriundas dos costumeiros incêndios praticados desde que o primeiro homem pisou no novo mundo.

 

 

 

Falo das queimadas, pra dizer que naquele dia faltou água na cidade. Fiquei sem tomar banho. Enchi-me de perfume, troquei de roupa e fui ao encontro do meu amigo, fazendeiro Silvio. Foram comigo um locutor de Brasília-DF, o motorista e cinegrafista para registrar o natalício histórico, prestes a acontecer no salão paroquial da igreja de São Pedro. São Pedro do Rio Grande, nome do padroeiro do Rio Grande do Sul. Lá chegaram o presidente do MST (Movimento dos Sem Terra), a cavalo, e o padre que celebrou a missa em homenagem e agradecimento aos bons anos de Nosso Senhor (NS) bem vividos pelo prendado, na graça de Deus...

 

 

 

Sua grande família compareceu em peso. Os amigos, como Atevaldo Santiago, Luis Dalavat, Dari, genro de Lili, e esposa, presidente do sindicato rural, senhor Genésio e sua esposa, dona Ires, professora catedrática da faculdade de Guaraí-TO. E outros tantos amigos da sociedade local lá estiveram para louvar a dádiva de mais um ano de vida daquele prestativo anfitrião.

 

 

 

 

 

 

 

     

 

 

 

 Nem a fumaça, o calor e a falta d`água, tiraram o brilho e o entusiasmo dessa festa comovente na história de vida exemplar do amigo da minha família: Silvio Ferreira.

 

 

 

Antes de ir para linha de servir; após as filmagens e fotografias de família, iniciei a homenagem, dedicando-lhe o xote Tropeiro Velho, de Teixeirinha:

 

 

 

 

 

 

 

                                                  Tropeiro Velho

 

 

 

 

 

 

 

Sentado a beira do fogo
Sentindo o peso da idade
Tão triste o velho tropeiro
Quase morto de saudade
noventa anos nas costas
Sempre lidou com boiadas
Mas nunca em suas andanças
Deixou um boi na estrada
Agora não pode mais
Seu corpo velho, cansado
Ás vezes fica caducando
E começa a grita com o gado
"era boi, era boiada"
Se assusta e recobre os sentidos
E outra vez fica calado
Pois este velho de noventa
Muito pra mim representa 
Ouça estes versos rimados...

 

 

 

 

 

 

 

Seu Silvio, preste atenção...

 

 

 

Ouça, fique calado...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tropeiro velho que tanta tristeza
Esconde o rosto na aba do chapéu
Olhos cravados no fogo do chão
Olha a fumaça subindo pro céu
Quebra de um tapa o teu chapéu na testa
Esqueça o seus noventa janeiros
Repare os campos lá vem a boiada
Pela estrada gritando os tropeiro
Tropeiro velho não levanta os olhos
Não tem mais força é o peso da idade

 

 

 

"Acabrunhado a beira do fogo
Está morrendo de tanta saudade"

 

 

 

Tropeiro velho sou um moço novo
Uma proposta te farei agora
Me dá o teu pala, o relho, o chapéu
Bombacha e botas e um par de esporas
Me dá o cavalo e o arreio completo
Vou continuar no teu lugar tropiando
Tropeiro velho levantou os olhos
Sentado mesmo me abraçou chorando
Beijou meu rosto e foi fechando os olhos
Entregou tudo e morto tombou

 

 

 

"Morreu feliz porque vou continuar as tropiadas que ele tanto amou" 2x

 

 

 

Enterrei ele a beira da estrada
Pra ver a tropa que passa e se vai
Leiam na cruz, vocês vão saber
Tropeiro velho é o meu próprio pai
Adeus meu pai
Tropeiro dos pampas
Teu pensamento cumprirás teu filho
Estou fazendo aquilo que fizestes
Grito a boiada encima do lumbrilho
Tropeiro velho hoje descansa em paz
Estou fazendo aquilo que ele fez
"Os anos passam também fico velho
Vou esperando chegar minha vez"

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 Essa canção diz muito sobre a vida que levou este velho tropeiro, que já deu o arreio completo ao bisneto mais velho para guiar sua saga da lida do campo e continuar tropeando. Em seguida, o locutor (que passou mal no dia por causa do calor), já meio estropiado, recitou a crônica da história do aniversariante, que começou em 1922. 

 

 

 

 

 

 

 

COMEMORAÇÃO: NATALÍCIO DO SENHOR SILVIO FERREIRA DE LIMA, NASCIDO EM 26/09/1922

 

 

 

Igreja de São Pedro, Guaraí-TO, 25 de setembro de 2011.

 

 

 

 

 

 

 

Gaudério, uma alma livre: mostra-se reflexivo, ousado, idealista e rico em sabedoria, exemplo de uma comunicação fácil; excelente anfitrião e administrador de seus bens. Homem de bem, capaz de promover qualquer coisa. E, na sua longa vida, as mulheres sempre lhe trouxeram sorte. Desde piá adora  uma chinoca linda. É o sangue que o puxa pela mulher do Sul, dos pampas...

 

 

 

Sua vida é de conquistas e fama, sempre dando sua contribuição em benefício de todos. Por isso peleia na linha do tempo; transformou seus sonhos em realidade, em grande parte voltada para a criação de gado. Aproveitou bem as oportunidades, por isso deixa registrada sua marca nos seus descendentes e amigos. Sempre que as dificuldades apareceram em sua vida, elevou-se acima de todas elas, atuando com desenvoltura e destreza. Sempre que necessário, mudou o seu mundo para melhor. Aprendeu com os erros cometidos e deu aula aos mais novos para que se espelhem em seus feitos maravilhosos. Sua vida sempre foi uma porta aberta para os altos destinos; sua existência até agora nunca foi fácil; pois nela nunca houve lugar fácil; para uma vida estritamente pessoal. Sua história foi de sucesso em seus grandes projetos, e seu pensamento foi superar-se sempre.

 

 

 

Seu tempo de moço foi penoso, principalmente para uma criança que viveu em um ambiente revolucionário, pois exigia muita adaptação àquela situação que afligia a região Sul do Brasil nas décadas de 20, 30 e 40. Muito nervosismo, emotividade e medo. Porém, o guri aproveitou o tempo para aprender a ler, escrever, decorar a tabuada e dominar as quatro operações da aritmética, ensinamentos transmitidos pela professora regente Pureza, minha bisavó, aulas ministradas na Fazenda do Pontão (do meu bisavô Nicolau). Além do currículo escolar regular, minha saudosa bisavó ensinou ao menino Silvio declamar poesias de Casimiro de Abreu. Algumas delas esse tropeiro velho dos Pampas lembra até hoje.  Lembrou ainda do churrasco de confraternização oferecido pelo seu pai Joaquim, aos Rodrigues, quando da volta vitoriosa da Revolução de 30, que colocou Getúlio Vargas na Presidência do Brasil. Os Rodrigues estiveram no Palácio do Catete no Rio, amarraram seus cavalos no obelisco, em forma de abraço, juntamente com os filhos de Flores da Cunha. Exigiram, na ocasião, a renúncia de Washington Luís, que não queria largar a teta de leite com café das Minas Gerais e Paulistas. Acabaria aí a velha república do café com leite.

 

 

 

Fazenda Machadinha, onde nasceu, em Lagoa Vermelha, nome de sua atual estância, foi o município rio-grandense que festejou a volta dos guerreiros revolucionários à sua terra natal. Fazendo parte dessa comemoração no final de 1930, o menino Silvio recitou o poema que transcrevo e deixarei a disposição em vídeo para todos os presentes.

 

 

 

A obra poética de Casimiro de Abreu está reunida em um volume intitulado ``As primaveras´´, de 1859. Sua poesia mais notória é ´´ Meus oito anos ``, na qual o saudosismo da infância é claramente expresso.