A gente tem pressa em tudo, corremos tanto nessa vida,
Menino, meu afilhado.
(Filmagens: Ipê, Passarinho)
Quando eu vinha da minha Fazenda, do Tabocão para Guaraí-TO ao lado do meu afilhado, menino novo, 10 anos de idade, como eu fui um dia mostrei as árvores do cerrado fingindo de mortas, parecendo cobras mal matadas, outras como o Ipê cheios de energia, vibrantes transmitidas pelas flores brancas, púrpuras e amarelas. Testemunha-se nesse 14 de agosto, os pequizeiros carregados; cachos de pequi, ainda verdes, lindos, pendurados nos galhos dessas árvores; frutas afrodisíacas, para o regalo dos animais e mortais humanos.
Perguntei ao menino qual o recado final que ele gostaria de gravar para o Senhor de idade, que faria aniversário nessa data. Foi então que o jovem mancebo me respondem, com entusiasmos de alguém que ainda tem tudo prá viver, amar, estudar e sonhar:
- Diga ao Vô Bizo, que gostaria de ser igual a ele, rico de espírito, cheio de saúde, ser adorado pela grande família. E principalmente, gostaria de ter muitas mulheres, pois vejo que até hoje muitas mulheres correm atrás dele. Faz, como diz o poeta, as velhas ficarem loucas e as novinhas sapatear, num salão de baile pulando mais que tico-tico, aperta uma aqui e outra ali, parece mais um guri, vira um “PIRIPIRI” é aquele “ti-ti-ti”. Assim é este velho bem-te-vi...
Indaguei sobre seus sonhos, suas metas sobre o futuro, foi que prontamente me respondeu:
(“Filmagens – Baixar a letra do menino da porteira).
Toda vez que eu viajava pela Estrada de Ouro Fino
de longe eu avistava a figura de um menino
que corria abrir a porteira e depois vinha me pedindo:
- Toque o berrante seu moço que é pra eu ficar ouvindo.
Quando a boiada passava e a poeira ia baixando,
eu jogava uma moeda e ele saía pulando:
- Obrigado boiadeiro, que Deus vá lhe acompanhando
pra aquele sertão à fora meu berrante ia tocando.
Nos caminhos desta vida muitos espinhos eu encontrei,
mas nenhum calou mais fundo do que isso que eu passei
Na minha viagem de volta qualquer coisa eu cismei
Vendo a porteira fechada o menino não avistei.
Apeei do meu cavalo e no ranchinho a beira chão
Ví uma mulher chorando, quis saber qual a razão
- Boiadeiro veio tarde, veja a cruz no estradão!
Quem matou o meu filhinho foi um boi sem coração!
Lá pras bandas de Ouro Fino levando gado selvagem
quando passo na porteira até vejo a sua imagem
O seu rangido tão triste mais parece uma mensagem
Daquele rosto trigueiro desejando-me boa viagem.
A cruzinha no estradão do pensamento não sai
Eu já fiz um juramento que não esqueço jamais
Nem que o meu gado estoure, e eu precise ir atrás
Neste pedaço de chão berrante eu não toco mais.
(Intérprete: Sérgio Reis – Composição de Teddy Vieira e Luizinho)”
- Hoje sou um menino igual ao menino da porteira vivendo por esse sertão, amo os animais, gosto de montar a cavalo e estou estudando muito para ser um bom Médico Veterinário. Quero ser rico, quero ter grandes fazendas, quero ter mulheres ao meus pés. Quero também ter uma família grande e uma grande família constituída. Quero encontrar o amor de minha vida. Sonho uma vida melhor para os meus e para os que me rodeiam, sobretudo um mundo melhor para todos os seres vivos.
Almoçamos, tivemos ainda mais um dedo de prosa, assim entreguei este jovenzinho sonhador a sua família que o espervava para saber quais as novidades, que o Padrinho tinha aprontado desta vez.
“Filme da Entrevista com menino, baixar Travessia do Araguaia.
Naquele estradão deserto, uma boiada descia
pras bandas do Araguaia pra fazer a travessia.
o capataz era um velho com muita sabedoria
as ordens eram severas ,e a peonada obedecia.
O ponteiro moço novo, muito desembaraçado
mas era a primeira viagem que fazia nestes lados
não conhecia os tormentos do Araguaia afamado
não sabia que as piranhas era um perigo danado.
Ao chegarem na barranca disse o velho boiadeiro,
derrubamos um boi n'água deu a ordem ao ponteiro
enquanto as piranhas comem,temos que passar ligeiro,
toque logo este boi velho que vale pouco dinheiro.
Era um boi de aspa grande já ruído pelos anos.
o coitado não sabia do seu destino tirano
Sangrado por ferroadas no Araguaia foi entrando,
as piranhas vieram loucas e o boi foram devorando.
Enquanto o pobre boi velho ia sendo devorado,
a boiada foi nadando e saiu do outro lado,
Naquelas verdes pastagens tudo estava sossegado,
disse o velho ao ponteiro,pode ficar descansado
O ponteiro revoltado disse que barbaridade,
sacrificar um boi velho pra que esta crueldade.
Respondeu o boiadeiro aprenda esta verdade,
que Jesus também morreu pra salvar a humanidade
preocupamos em trocar de carro, de TV, os móveis da casa, roupas novas, que às vezes nos esquecemos de ter um amor tão terno quanto é o amor de nossas mães. Vamos valorizá-lo enquanto o temos pertinho de nós, porque quando a morte chega o perdemos para sempre.
Estava em busca dos meus sonhos, estressado, no corre-corre, empreendendo minha corrida, apagando o fogo dos conflitos, incentivando e colocando minha gente para trabalhar. Foi quando recebi um telefonema de minha mana dizendo que minha mãe estava passando mal, que já tinha sido medicada e internada em Laranjeiras do Sul-PR, e estariam levando-a para Cascavel, pois, o caso era sério, tratava-se de uma Pancreatite, assim fiquei logo assustado. De imediato em dirigi ao banco para fazer a última transferência de dinheiro para a conta corrente de minha saudosa mãe.
A esta altura do campeonato da vida, eu me encontrava prá lá de angustiado, sentindo-me mal, com uma enorme sensação de mal-estar, na fila dos caixas-eletrônicos eu respirava bem devagar, para não atordoar ou desmaiar, meus olhos brilhavam pelas lágrimas que eu derramava, com guardanapo de papel eu enxugava. Nervoso, desolado com a perda que eu já imaginava viria a ter, apanhei o recibo que a máquina cuspiu para mim. Naquele vai e vem, entra e sai, multidão, clima tenso, véspera de greve bancária, o agito da galera, Brasília bombando, fervendo e eu de saída, para ver minha mãe enferma pela última vez. Viagem imediata!
Neste clima tenso, eu desastrado como sou, sem querer deixe cair o recibo próximo a máquina que emite as senhas dos caixas no interior do banco, logo na entrada da porta de vidro giratória. Até aí tudo bem, mas só no momento que fui apanhar o papel, percebi que ele planou até os pés de uma linda deusa morena, que estava na filha para apanhar a senha de atendimento. Já de posse do comprovante, olhares fulminantes, abraços calorosos e apertados, sensação de bem-estar, uniu aquelas auréolas num brilho só, e apesar da multidão toda em volta, não enxerguei ninguém, parecia até que estávamos num túnel vertical de luz sentindo o prazer que aquele momento nos forneceu. Foi um reencontro maravilhoso que o acaso me presenteou, pois, saí do estado de ansiedade para o êxtase de prazer em um estalo. Como foi importante que a Vênus aparecesse ali no meu caminho, deste dia em diante me deu paz, harmonia e serenidade para enfrentar a perda da minha mãe e os conflitos subsequentes.
Nesta mesma hora fui advertido pela musa, atenta, por mais essa coincidência, ela me confidenciou que já havia adentrado ao banco, mas, quando deu por si, notou que tinha esquecido a senha para o atendimento. Então teve que retornar a fila de espera para apanhar o impresso com o número da senha, sem o qual não seria atendida. Esta deusa comovia, via de perto a peça que a vida nos convidava, encolhida e surpreendida com aquela acolhida do encontro e o paraíso paradisíaco que o momento nos oferecia. E assim vai caminhar mais esta história de amor, que vem de um passado muito distante. ...