Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor!
Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
— Pés descalços, braços nus
— Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
................................
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
— Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!
Aproveito a oportunidade ímpar para agradecer à família Ferreira de Lima a acolhida e respeito que tiveram com os Rodrigues desde o início do século passado. É uma amizade que perdura por mais de 100 anos. Obrigado, muito obrigado mesmo!
Transcorreu a década de 30, e veio a II Grande Guerra. Muitos filhos desta terra deram suas vidas para a vitória da liberdade no velho continente. Uns foram à guerra, outros ficaram. Parte dos Rodrigues veio para Chapecó (hoje Santa Catarina). Mas, na década de 40, radicaram-se em Iguaçu, antiga colônia Mallet. Chegaram, assim, os antigos rebeldes tenentes de 20, em Laranjeiras do Sul, para nacionalizar as terras do oeste do Paraná, pois já conheciam o potencial desse torrão, e estas riquezas muito lhes interessavam. Os revolucionários Rodrigues e outros tantos aliados de Vargas pressionaram o presidente para a criação do território do Iguaçú, pois a gauchada já estava de mala e cuia em direção do Paraná. Naquela marcha para o oeste, viagem de 54 dias em carroças cobertas de encerado, viajavam famílias de migrantes: poloneses, italianos, alemães e gaúchos nativos, como foi o caso da Rodrigada, que fazia a segurança do Comboio Oestino, culminando, enfim, com o que ficou consagrado como o “Rio Grande do Sul II”. Tal ´´ slogan `` ofendeu por demais as oligarquias ervateiras e políticas do Paraná. Logo o sonho acabaria, e o território do Iguaçu foi extinto. E essas ricas terras ficaram por muito tempo abandonadas.
Foi nesse clima pesado, já na década de 50, que o senhor Silvio Ferreira de Lima abandonou sua querência, amada Lagoa Vermelha. E foi se estabelecer nos quarteirões laranjeirenses da Erveira e do Rio da Prata; lá foi um grande safrista, produzindo varas e varas de suínos, muitas destas com mais de 500 porcos; legalizou suas posses no Governo de Moisés Lupion. Foi vereador por dois mandatos: um do então prefeito Arival Camargo e, também, quando o executivo municipal foi comandado por seu aliado Juca Marcondes.
Na década de 60, muitas foram as festas e festejos de igreja que nossas famílias participaram e celebraram juntas. Cresci e me desenvolvi sendo amigo de seus filhos. Em especial do menino Luís... (que as ondas do mar na costa paranaense levaram do nosso convívio para sempre). Afogou-se, ainda jovem. Deixou-nos muitas saudades. Foi meu parceiro de declamação de poesia no Instituto Santana de Laranjeiras do Sul. Cada semana um de nós recitava uma quadrinha. Foi desse modo que ganhamos a simpatia da primeira professora, dona Dorinha. E ficamos famosos no colégio, fomos apresentados ao padre Galo, como revelações do ano de 1961. A temida irmã superiora, irmã Inês, era nossa fã. Tínhamos uma excelente aliada. Lembro-me como se fosse hoje: o menino Luís, de jaqueta de couro marrom, subindo as escadarias de acesso ao alpendre do colégio, que dava para a frente do pátio, onde se via todos os alunos do turno matutino em forma, escutando as nossas trovas e gestos, ensaiados para àquela apresentação pública matutina, pois, valia bônus para a nota de educação artística. Assim, Sr Silvio, me recordo do seu filho, com carinho e saudades. Talvez ele tenha sido um dos primeiros amigos fiéis que tive no colégio das irmãs.
Sei agora que o Luisinho está aqui em espírito, por isso vou recitar a poesia que outrora declamamos, intercalando as quadrinhas. Assim Gonçalves Dias nos presenteia com belas rimas em trova que intitulou: