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Meus Oito Anos
Meus Oito Anos

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor!
Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
— Pés descalços, braços nus
— Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
................................
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
— Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!

 

 

 

 

 

 

 

Aproveito a oportunidade ímpar para agradecer à família Ferreira de Lima a acolhida e respeito que tiveram com os Rodrigues desde o início do século passado. É uma amizade que perdura por mais de 100 anos. Obrigado, muito obrigado mesmo!

 

 

 

Transcorreu a década de 30, e veio a II Grande Guerra. Muitos filhos desta terra deram suas vidas para a vitória da liberdade no velho continente. Uns foram à guerra, outros ficaram. Parte dos Rodrigues veio para Chapecó (hoje Santa Catarina). Mas, na década de 40, radicaram-se em Iguaçu, antiga colônia Mallet. Chegaram, assim, os antigos rebeldes tenentes de 20, em Laranjeiras do Sul, para nacionalizar as terras do oeste do Paraná, pois já conheciam o potencial desse torrão, e estas riquezas muito lhes interessavam. Os revolucionários Rodrigues e outros tantos aliados de Vargas pressionaram o presidente para a criação do território do Iguaçú, pois a gauchada já estava de mala e cuia em direção do Paraná. Naquela marcha para o oeste, viagem de 54 dias em carroças cobertas de encerado, viajavam famílias de migrantes: poloneses, italianos, alemães e gaúchos nativos, como foi o caso da Rodrigada, que fazia a segurança do Comboio Oestino, culminando, enfim, com o que ficou consagrado como o “Rio Grande do Sul II”. Tal ´´ slogan `` ofendeu por demais as oligarquias ervateiras e políticas do Paraná. Logo o sonho acabaria, e o território do Iguaçu foi extinto. E essas ricas terras ficaram por muito tempo abandonadas.

 

 

 

Foi nesse clima pesado, já na década de 50, que o senhor Silvio Ferreira de Lima abandonou sua querência, amada Lagoa Vermelha. E foi se estabelecer nos quarteirões laranjeirenses da Erveira e do Rio da Prata; lá foi um grande safrista, produzindo varas e varas de suínos, muitas destas com mais de 500 porcos; legalizou suas posses no Governo de Moisés Lupion. Foi vereador por dois mandatos: um do então prefeito Arival Camargo e, também, quando o executivo municipal foi comandado por seu aliado Juca Marcondes.

 

 

 

Na década de 60, muitas foram as festas e festejos de igreja que nossas famílias participaram e celebraram juntas. Cresci e me desenvolvi sendo amigo de seus filhos. Em especial do menino Luís... (que as ondas do mar na costa paranaense levaram do nosso convívio para sempre). Afogou-se, ainda jovem. Deixou-nos muitas saudades. Foi meu parceiro de declamação de poesia no Instituto Santana de Laranjeiras do Sul. Cada semana um de nós recitava uma quadrinha. Foi desse modo que ganhamos a simpatia da primeira professora, dona Dorinha. E ficamos famosos no colégio, fomos apresentados ao padre Galo, como revelações do ano de 1961. A temida irmã superiora, irmã Inês, era nossa fã. Tínhamos uma excelente aliada. Lembro-me como se fosse hoje: o menino Luís, de jaqueta de couro marrom, subindo as escadarias de acesso ao alpendre do colégio, que dava para a frente do pátio, onde se via todos os alunos do turno matutino em forma, escutando as nossas trovas e gestos, ensaiados para àquela apresentação pública matutina, pois, valia bônus para a nota de educação artística. Assim, Sr Silvio, me recordo do seu filho, com carinho e saudades. Talvez ele tenha sido um dos primeiros amigos fiéis que tive no colégio das irmãs.

 

 

 

Sei agora que o Luisinho está aqui em espírito, por isso vou recitar a poesia que outrora declamamos, intercalando as quadrinhas. Assim Gonçalves Dias nos presenteia com belas rimas em trova que intitulou: